sábado, 28 de janeiro de 2023

HOMENAGEM E GRATIDÃO PÓSTUMA AO PADRE LÉO PESSINI

             Batizado como Leocir Pessini, tornar-se-ia mais conhecido e afamado como padre Léo Pessini. Ele nasceu na pequena cidade de Ibicaré, no oeste catarinense, aos 14 de maio de 1955, e era aproximadamente dois meses mais jovem do que eu. Ainda na infância, seus pais mudaram-se para a cidade de Arroio Trinta (SC) e depois para Iomerê (SC).

Contando com 21 anos e desejoso de seguir sua vocação religiosa, ingressou no seminário São Camilo, em Iomerê (SC), onde iniciou o noviciado em 25 de janeiro de 1974.

Na Ordem dos Clérigos Regulares dos Ministros dos Enfermos ou simplesmente Ordem dos Ministros dos Enfermos, também chamada e conhecida por Ordem Camiliana, fundada em 1590, pelo italiano São Camilo de Lellis (1550-1614), fez sua primeira profissão religiosa em 26 de janeiro de 1975.

No ano em que me graduei em medicina, Leocir Pessini fez sua profissão perpétua, ocorrida em 25 de janeiro de 1978. Recebeu a ordenação diaconal em 21 de fevereiro de 1980 e, a ordenação presbiteral, em 23 de outubro de 1980, por dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016).

Leocir Pessini licenciou-se em filosofia na Escola Nossa Senhora da Assunção de São Paulo (1975-1977) e, em teologia (1977-1980), na Universidade Pontifícia Salesiana, em Roma. Posteriormente, fez pós-graduação em educação pastoral clínica e bioética (1982- 1983 e 1985-1986) no St. Lukes’s Medical Center, em Milwaukee, em Wisconsin, nos Estados Unidos da América (EUA).

Além de sacerdote, dedicou-se à vida universitária, obtendo seu mestrado (1990) e doutorado (2001) em teologia moral e bioética na Pontifícia Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. Posteriormente, concluiu seu pós-doutorado na Edinboro University, no Centro de Bioética, na Pensilvânia (EUA).

Conheci o padre Léo Pessini na cidade de São Paulo, no início de minha carreira como médico. Era um jovem sacerdote, capelão do Hospital das Clínicas, experiência que lhe proporcionou assistir o presidente eleito do Brasil Tancredo de Almeida Neves (1910-1985), em sua enfermidade, que o levaria ao óbito. Desse inesquecível convívio escreveu o livro “Eu Vi Tancredo Morrer” (1985).

Alegre, dinâmico, muito entusiasta e idealista, organizou diversos Congressos de Pastoral da Saúde e Humanismo, no campus Ipiranga da Universidade São Camilo, onde eu participei de vários.

Dentre os cargos que padre Léo Pessini ocupou salientam-se: coordenador da Delegação de Pastoral da Saúde da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entre 1994 e 1997, e membro da equipe de apoio do Observatório Pastoral do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Foi também moderador do Camillianum – Instituto Internacional de Teologia Pastoral da Saúde, afiliado à Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, Itália.

Além disso, padre Léo Pessini integrou a Câmara Técnica do Conselho Federal de Medicina e foi um dos grandes colaboradores do Código de Ética Médica atualizado em 2009.

Leo Pessini tornou-se uma das maiores autoridades no país, no campo da bioética! Foi editor de duas revistas científicas, sendo uma delas “O Mundo da Saúde”, e membro da diretoria da Associação Internacional de Bioética. Conferencista, ministrou muitos cursos no Brasil e no exterior. Escreveu inúmeros de artigos e, dentre eles, desde 1989, textos para a revista “Mensageiro do Sagrado Coração de Jesus”. Eu fui seu assíduo leitor na coluna de bioética, que durante anos publicou mensalmente, na revista “Família Cristã” das Edições Paulinas. Era especialista em abordar temas relacionados à vida e à morte e, dentre eles, vale citar o título do artigo publicado pelo Conselho Regional de Medicina do Parará: “Dizer Adeus à Vida com Dignidade e Elegância”.

Ademais, publicou mais de 20 livros sobre bioética, pastoral da saúde e humanização da saúde, e ao menos um dele foi traduzido para o idioma croata. Dentre as obras de sua lavra, diversas delas com várias edições, têm-se: “Ministério da Vida”, “Problemas Atuais de Bioética” e a trilogia: “Distanásia: Até Quando Investir Sem Agredir”, “Eutanásia: Por Que Abreviar a Vida?” e “Humanização e Cuidados Paliativos”.

Padre Léo Pessini estimulou as comunidades médica e religiosa a refletir sobre questões como terminalidade da vida, obstinação terapêutica, cuidados paliativos e respeito à dignidade do ser humano vulnerabilizado pela doença e pelo sofrimento, sendo defensor da ética do cuidado e da proteção.

Destacou-se como sacerdote, professor universitário, pensador, conferencista, escritor e grande intelectual, um dos nomes mais importantes e respeitados da bioética do Brasil.

Na Congregação Camiliana foi superintendente da União Social Camiliana (desde 1995), superintendente do Círculo Social Camiliano (desde 2000); professor no curso de mestrado em bioética do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo; vice-reitor do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo e em Cachoeiro do Itapemirim (ES); superior da Província Brasileira dos Camilianos; e presidente das Organizações Camilianas no Brasil.

O Capítulo Geral Extraordinário da Ordem dos Ministros dos Enfermos ocorrido em Ariccia (Roma), elegeu padre Leonir Pessini seu 60o superior geral para o período 2014-2020. Contudo, acometido por uma doença neoplásica fatal, não chegou a terminar seu mandato, vindo a falecer em 24 de julho de 2019, aos 64 anos.

Passou seus últimos dias internado no Hospital São Camilo da Granja Viana, em São Paulo, cercado do afeto de seus irmãos de congregação e familiares.

Seu velório foi feito na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, no bairro Pompeia (SP), e seu sepultamento ocorreu no dia 26 de julho de 2019, após a Santa Missa Exequial presidida pelo cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer.

Guardo grande gratidão e recordação do padre Léo Pessini. Além dos ensinamentos auferidos pelas reflexões de seus lúcidos artigos, tive a oportunidade de publicar há alguns anos, o livro “Urologia, Vida e Ética” (2006), no qual tive a honra de ter seis ilustríssimos e renomados prefaciadores – Dalton Luiz de Paula Ramos, José Renato Nalini, Miguel Srougi, Nelson Rodrigues Netto Júnior, Sami Arap, bem como o inesquecível padre Léo Pessini.

Seu nome é honrado e perenizado post-mortem, no “Auditório Padre Léo Pessini”, no Centro Universitário São Camilo, no campus Pompeia.

HELIO BEGLIOMINI

 

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

PREMIADOS SOBRAMES SP 2021

 

Durante a Pizza Literária realizada em 20 de outubro de 2022, de forma presencial, o presidente da SOBRAMES SP, Sérgio Gemignani, revelou os vencedores dos Prêmios Flerts Nebó e Bernardo de Oliveira Martins, destacando as prosas e os poemas apresentados em 2021:


 PRÊMIO FLERTS NEBÓ 2021

 Primeiro Lugar: Um Respingo de Memória – Sérgio Perazzo

Primeira Menção Honrosa: O Monstro do Ralo – Sérgio Perazzo

Segunda Menção Honrosa: Comemoração Fecunda- Delfim Silva Pires

 

PRÊMIO BERNARDO DE OLIVEIRA MARTINS 2021

Primeiro Lugar: Pirueta - Luiz Jorge Ferreira

Primeira Menção Honrosa: Sr. Carnaval – Josyanne Rita de Arruda Franco

Segunda Menção Honrosa: Cine Paradiso – Márcia Etelli Coelho

UM RESPINGO DE MEMÓRIA

             Pneu no lamaçal escorregadio sem tração na roda é abismo certo sem volta, né não? É como contar e recontar a mesma história de frente pra trás, de trás pra diante. Dados viciados na mesa, sempre o mesmo jogo, o mesmo sete, acabando em empurrão e xingamento.

         Se dez vezes arrumou a mala para sair de casa, dez vezes não passou do portão. A mesma ameaça e a mesma gastura de juras de amor, de mala feita, dizendo que dessa vez é pra valer, dessa vez eu vou mudar. E ficava esperando, esperando, esperando milagre da ressurreição, da partilha do peixe e do pão, no fim da tempestade no Monte das Oliveiras, olha só, lamaçal e azeitonas.

         Dessa vez, o pretexto foi o modo novo de pentear o cabelo antigo, como podia ser o comprimento da saia ou o jeito de enrolar o cachecol no pescoço, a seus olhos provocante, tendo no nó macio de lã um quê de uma intenção suicida, nó de caixas de surpresas, surpresas rasgáveis de papel, velhas cartas de amor de tintas desbotadas, versos de rimas pobres, restos requentados de paixão barata, ameaça velada ou explícita de um sequestro fixando o valor do resgate.

         Qual! Ninguém sabia mais em que ou em quem acreditar, se na repetição da frase “ eu te amo, eu te amo”, a essa altura totalmente desmoralizada, repetida como uma imagem de um espelho rachado e atirado na parede com quase nenhuma força, um ponto e vírgula nas reconciliações de quintal entre beijos úmidos e a volta insistente do tédio no intervalo do amor esquecido em algum canto, amparado pela meia dúzia das latinhas de cerveja dos domingos mal vividos e malpassados, desenhados a batom e rímel escorrido.

         Mas não era o caso, ou era mesmo da vida, se repetida até o miolo do tédio, algo assim como uma pandemia, assim como a consciência impositiva da morte, assim como quem a gente escolhe por companhia dessa jornada. Como chamar tudo isso de jornada, um nome tão gasto, tão repetitivo, pneu em lamaçal à procura de uma metáfora menos pessimista. E como Drummond: “... abre o frasco de loção e abafa o insuportável mau cheiro da memória”.

 

Sérgio Perazzo

Prosa Vencedora do Prêmio Flerts Nebó 2021

O MONTRO DO RALO

             O monstro do ralo tropeçou na tampa do bueiro. Entupiu todas as bocas-de-lobo daquele pedaço de rua, antecipando enchentes de chuvas de verão, daquelas ensopadas em fim de tarde.

Segundo as más línguas, foi parar bem no meio da sala em plena novena na casa da Tiburcinha.

O monstro do ralo é endêmico nas favelas que rodeiam o Golfo de Bengala. Quase invencível, só é enfrentado pelo Fantasma-que-anda, pelo seu inseparável cão-lobo Capeto e a escolta de pigmeus que guarda a entrada da Gruta da Caveira.

O monstro do ralo nos pega desprevenidos, quando menos a gente espera, que nem comerciais borbulhantes de remédio para dispepsia, entre sorridentes promessas de bem-estar de companhias de investimentos, de crédito e de seguros, de enriquecimento milagroso e imediato; anúncios de carros zero da mais alta tecnologia on-line; e modelos vestindo dioríssimos e cruzando as pernas em sensuais ofertas de produtos de maquiagem capazes de remoçar a mais cruel herança do tempo e suas escavações botóxicas nas maçãs do rosto.

O monstro do ralo é assim mesmo sem sentido claro e, por isso mesmo, indefinido e indecifrável. Mais que um monstro é um estado de espírito, um mal-estar assim como uma TPM insinuante. A TPM tendo, pelo menos, uma data mensal provável a ser cumprida e esperada. Um endereço endócrino-fisiológico conhecido e até certo ponto previsível.

Vou tentar dar um exemplo para que vocês possam reconhecê-lo mais facilmente quando cruzarem o seu caminho, juntando coragem e disposição para enfrentá-lo de mãos limpas e não deixá-lo se transformar em deprê de tonelagem de pandemia à qual a gente acaba se acostumando. Passa a ser interminável a contagem dos dias e a recontagem das tarefas domésticas repetitivas que se empilham infinitamente, como botar o lixo fora e a água suja na pia.

Imaginem um telhado de ardósia e paredes de biscoitos de chocolate da casa da bruxa de João e Maria. Acrescente uma floresta encantada, povoada de elfos, ninfas e anjos natalinos conduzindo renas. Cenário encantado de felicidade impecável de sinfonia romântica em dó maior, quase perfeita. E quando tudo está preparado para um desfecho de happy end forever, bem na hora de viver a realidade de um sonho, lá vem o monstro do ralo engasgando em si mesmo, se arrastando e gorgolejando o encanamento.

Sim, porque o monstro do ralo não é um, não são dois, nem são três, é uma rede de encanamento subterrâneo com bilhões de ramificações. Entra em todas as casas, pesa e entristece todos os corações, mesmo porque o que a princípio parece, nada se torna de indefinível a um resultado de uma lei de vasos comunicantes, de penetrar nas casas não se sabe ao certo de onde, de que chaminés, sombreando almas e corações, esvaziando o sentido das coisas. Quando se vê, estamos submersos num fluido sem forma, tomado pelo nojo de um clima em que algo de ruína se faz presente, não se sabe de onde nem por que. Esse monstro do ralo que se insinua sem ser chamado está aí espiando por trás do seu ombro esquerdo nessa luta constante de fixar no dia a dia cada momento de felicidade capaz de não deixar escoar pelo ralo, pela fresta das ilusões, pelo sentido de ser humano, de ser tão pequeno diante de tal universo.

Talvez entrecortados de soluços e gorgolejos, à espera de ouvir de novo a gargalhada franca que se desenrola em ondas. Como o tapete persa do corredor, tão mágico quanto o de Aladim, tão voador quanto à sucessão de mil e duas noites em 365 dias, estrela acrescentada ao mapa do Oriente, a dissipar tempestades de areia e a escuridão que nasce e morre do lado de lá ao se fechar a janela com três voltas da chave.

 

Sérgio Perazzo

Primeira Menção Honrosa – Prêmio Flerts Nebó 2021

COMEMORAÇÃO FECUNDA

         Ele sentou-se no chão, com a cabeça pendida entre as pernas semi-fletidas e semi-abertas, sentiu o suor escorrer-lhe pelas costas, pelo peito, pela cara. Da camisa vertia uma pasta de suor com areia. 

Tirou o chapéu que balançava por sobre seus cabelos molhados, coçou a cabeça, voltou o chapéu e, com as costas da mão, limpou o canto da boca. 

Sentiu o gosto salgado do suor misturado com terra e cuspiu. Um cuspe de pouca saliva e visguento, que mal lhe saiu da boca e foi cair perto de si. 

Olhou para as estacas de cerca; teria que fazer bem uma meia dúzia de buracos, cada qual com setenta centímetros de profundidade e duas cavadeiras de largura. Olhou para as mãos: sujas, grossas, calosas, cheias de gretas; instantaneamente voltou o olhar para uma lasca de aroeira perto de si e cismou. 

- Aquele pedaço de pau é mais liso que minha mão. 

Puxou a cavadeira para perto de si, esfregou o cabo, e percebeu o quanto ele estava liso, era até brilhante de tão liso. 

Havia sido lixado com a aspereza de sua mão. 

Ele era um forte, os objetos adaptavam-se ao seu ao jeito, e ele adaptava-se aos objetos. Estava quase virando um objeto. Há muito tempo deixara de pensar, só executava. A sua vida era fazer, só fazer...um fazer, lento, devagar, suado, sofrido, cansado. 

Sentiu a barriga roncar, andava sempre com a barriga vazia; mesmo nas refeições, ainda que tivesse comida à vontade: comia pouco. Barriga cheia demais atrapalha o trabalho, não rendia o serviço e sentia-se mal; por isso, andava sempre com a barriga roncando. 

Levantou-se, olhou para sua sombra no chão e calculou: dez horas da manhã, talvez nem tanto, aquela cerca não ficaria pronta tão facilmente... 

Contou dois passos largos e marcou o local da outra estaca de aroeira, bateu a cavadeira no chão seco e duro, e ela resvalou, tirando uma casquinha fina de terra. 

Repetiu esse gesto centenas, milhares de vezes e, lentamente, a cerca de arame farpado fechou-se. 

Olhou para o rebanho magro, ossudo, desconsolado, bamboleante e juntos, ele e o gado, caminharam para aquele cercado novo. 

Uma rês tropeçou no caminho e caiu. Aquela não levantaria mais. Tentou por todos os meios movimentá-la, mas havia perdido toda a força para a luta da vida. Acabaria por morrer ali. 

Os urubus fizeram morada em suas terras, alguns pousavam no lombo dos animais. Estavam desaforados esses animais agourentos, carniceiros. 

Ele sentiu que, se tropeçasse, o mais fácil seria ficar imóvel e deixar a morte levar mais um corpo seco, naquela seca imensa. Até os urubus iam ter pouco para aproveitar. 

O sol tinha deixado no horizonte um vermelho amarronzado, via-se também uns fiapos de nuvens, distantes uns dos outros. Dirigiu-se para a casa com passos lentos, quase que empurrados pelo vento que se havia formado. 

Durante a noite, acordou com o barulho do vento, dos trovões e a claridade dos relâmpagos. Correu da cama para o quintal, e ficou com o corpo nu, da cintura para cima, exposto ao vento, vendo as nuvens pesadas por entre os raios, chegando-se cada vez mais. 

A chuva encontrou sua cara molhada de lágrimas; e, juntas, molharam aquele chão duro. 

O amanhecer o encontrou no centro de sua propriedade, andando por todos os cantos, tudo ganhava vida. 

Durante uma semana choveu todas as noites e, durante todos os dias, ele preparou sua terra. Arou, tombou, gradeou e semeou sua roça; se teve canseira, não sentiu, ou, se sentiu, não se lembrava. O chão foi ficando verde com sua plantação, até que não se via mais terra, era só verde, o verde de sua roça. 

Naquele dia, saiu de sua roça mais cedo e passou na cidade; comprou comida e bebida. 

Veio para casa mais prosa e o com riso frouxo de felicidade. A mulher e ele comeram, beberam e se amaram comemorando a vida, esquecidos da dor passada. 

No ano a seguir, além da colheita, colheram também um filho, presente de Deus e fruto do amor e confiança dos dois na vida. 

 

DELFIM SILVA PIRES

Segunda Menção Honrosa Prêmio Flerts Nebó

PIRUETA

 

Todas essas coisas que dependurei no tempo...

Ou engavetei na memória... criaram teias.

Todos esses contos, crônicas, poemas e romances, que engalhardei de virgulas, reticências, tremas, e exclamações.

Estão pasmos com a minha voz.

Espantados com a minha lentidão.

E surpresos com o meu abandono pessoal.

 

Arrasto meu corpo mais osso que ansiedade.

Por essa cidade.

A pé ou cavalgado de saudades.

Eu continuo a me dizer que de uma estação a outra nesse trem...

São dez anos.

 

Quantos já desceram e quantos embarcaram com as suas faces imberbes

Assustados com a viagem dando atenção a cada ruído que a máquina cria no seu trajeto tortuoso.

Resta-me os passos com que entrei... os poros desalinhados... os podres dias de outono em que palitei a primavera.

As pessoas com quem fiz planos são fotos descoradas na parede do corredor vazio.

Tantos solavancos a nos espantar...

Assusta a alma que balanceia com o trepidar do trem, dentro do porta cédulas junto com algumas moedas inválidas de  centavos.


Luiz Jorge Ferreira

Vencedor do Prêmio Bernardo de Oliveira Martins 2021

Sr. CARNAVAL

 

Sr. Carnaval,

As alas fechadas e o brilho esquecido 

esfriam o tambor da nossa esperança.

Sem samba-canção de alguma bonança,

o nosso desfile é só particípio...

 

Sr. Carnaval,

Não tenho adereços no meu endereço,

mas chuva lavando as minhas lembranças 

que escorrem sozinhas no palco vazio 

de ruas silentes da grande festança. 

 

Sr. Carnaval,

O mundo jaz frio na ausência e no medo...

A realidade se faz tão sombria 

que sem tua festa neste fevereiro

nos resta o degredo de antigas folias.

 

Sr. Carnaval,

Resguarda a beleza do teu espetáculo!

Espera que a aurora de um novo dia

renove a pujança daqueles que lutam

para não perder sua tez de alegria.

 

Sr. Carnaval,

Aguenta conosco... Os teus brasileiros!

E quando puderes de novo ser pleno, 

verás o teu povo brincando sem marcas

de um tempo vivido em isolamento.

 

Josyanne Rita de Arruda Franco

Primeira Menção Honrosa

Prêmio Bernardo de Oliveira Martins 2021

CINE PARADISO

 

Saindo da tela, de longe se avista

personas que contam histórias de um povo.

Estrelas nascidas com alma de artista

desfilam qual Páscoa em carruagens de fogo.

 

No embalo da noite, um coração valente,

estranho no ninho, se faz gladiador.

Um mago aprendiz em silêncio, inocente,

no Bem urbaniza o amor, sublime amor.

 

Noviça rebelde conversa com aquela

que na forma da água vence a timidez.

Na dança com lobos La Land revela

que um vil cidadão caça andróide e ETs.

 

Com rastros de ódio, talvez psicose,

a rede intriga o tigre e o dragão.

Titânico amor sobrevive à morte.

Um guia exorciza o poder do chefão.

 

Os homens caminham, assim, sem destino,

sob a luz do luar, cantando na chuva.

E a linda mulher com um sexto sentido

protege o garoto enlaçando ternura.

 

Em tempos modernos o grande avatar

espera um milagre no campo dos sonhos.

O céu testemunha e até pode esperar

que na casa branca haja um sol para todos.

 

Senhor dos anéis no retorno decreta

que a arca perdida é uma grande ilusão.

Discurso do rei diz que a vida é tão bela.

Melhor? Impossível... Que venha a missão.

 

Pois eu, cisne negro, sonhei liberdade.

Da lista, porém, quase nada restou.

Vestígios do dia: suplício e saudade

de um paradiso que o vento levou.

 

Márcia Etelli Coelho

Segunda Menção Honrosa

Prêmio Bernardo de Oliveira Martins 2021

 

XVI JORNADA MÉDICO-LITERÁRIA PAULISTA

 Em 10 de setembro de 2022 a SOBRAMES SP realizou, de forma híbrida, a XVI Jornada Médico-Literária Paulista com apresentação de textos, reunidos na Coletânea Pizza Literária XVI Fornada.

 

PREMIADOS da XVI JORNADA

 

Primeiro Lugar Poema   Márcia da Silva Sousa     Escritura

Segundo Lugar Poema    Alitta Guimarães Costa Reis      Sob Nova Direção

Terceiro Lugar  Poema Sônia Regina Andruskevicius de Castro        Não Tem Mais

 

Primeiro Lugar Prosa   Izabella Crsitina Cristo Cunha    Relatividade

Segundo Lugar Prosa    Josyanne Rita de Arruda Franco   Infinitude e Passagem

Terceiro Lugar Prosa      Arquimedes Viegas Vale  Semana de Arte Moderna – Raízes

 

A SOBRAMES SP agradece a colaboração dos ilustres avaliadores:

 Academia Ituana de Letras (ACADIL)

Acadêmica Maria Angela Mangeon Elias (prosa)

Acadêmico Sidarta Martins (poema).

 Academia Rio-pretense de Letras e Cultura (Arlec)

Vice-Presidente Rosalie Gallo (prosa)

Acadêmica Vera Márcia Paráboli Milanesi (poema)

 Academia de Letras da Grande São Paulo

Presidente Maria Zulema Cebrian (prosa)

Acadêmico Sérgio Augusto Alonso Ballaminut (poema)

RELATIVIDADE

 

Pulou de repente da minha barriga, sem eu nem perceber ou querer. Eu ainda com aquelas pernas inchadas, sentindo a dor no corte “Ah, que corte enorme”. No colo, chupando a teta descaída, largas num chupão estalado a boca do meu bico e me chutas. Te empurras, quando vi, se arrastou pelo chão, engatinhou uns dois metros e logo se pôs de pé.

Saiu andando três passos desengonçados e apressados para bater a cabeça na quina da mesa da sala, tão rápido nem deu tempo de eu proteger. Caiu de bunda. Ficou um galo enorme. Apertou a testa, deu um berro de choro ardente, mas não durou muito, antes que eu pudesse pensar pegar o gelo já estavas andando novamente, desta vez com firmeza, sem apoio, em compostura quase militar indo mexer no armário de vidro que eu sempre disse que não era coisa para menino futricar.

Abriu as portas. Viu lá uma série de caixas e jogos e disse, “Coisa mais velha do papai, credo, quanta quinquilharia!” antes mesmo de dizer mamãe. Fechou uma das portas com desinteresse e pôs-se a correr pela sala, dando duas voltas completas dignas do melhor atleta dos 50 metros rasos para se esparramar no sofá, o meu velho sofá, com as mãos todas sujas de uma lama que não vi passar e pés pretos com novas cicatrizes de artimanha vivida. Quis pegar o controle do videogame, apertou uns botões olhando para a tela, deu um grito de alegria largando o controle estatelado no chão para esticar os braços acima do corpo num pulo de felicidade.

Coçou a barriga e foi então correndo para o banheiro, encostou a porta, e quando abriu, saindo só de toalha enrolada disse com tamanho emburramento em alto e bom tom: “Não quero ir!”. Eu me perguntava para onde? Nem consegui ficar com raiva, pois antes mesmo de querer partir para te dar uns tabefes, entras no quarto ao lado e bate a porta como um vendaval. Sais de lá, já com a mochila, pronto, dizendo que estás atrasado para a última prova.

Vais saindo, e olha, eu nem fiz seu lanche ainda, mas logo me retalias dizendo que esse negócio de levar lanche para escola já era, mãe, passo no débito ou no telefone. Vai andando apressado, me dás um beijo na bochecha, eu mereço um beijo, meio de lado com migalhas do pão que roubas do cesto da cozinha e sais mastigando de qualquer jeito e sem compromisso com qualquer ritmo de limpeza.

Fechas a porta, desta vez sem bater, porém, logo voltas dizendo que já sabe a faculdade que vais fazer. Precisas de ajuda, tens que decidir, será que o dinheiro vai dar? Eu não sei, como eu vou saber, eu nem tive tempo de fazer as contas, nenhuma conta.

Entras no quarto e sais gritando, alegre e estonteante: “Eu passei!!!” E são tantos beijos, e abraços, e saltos que me pegas nos braços e me rodas acima do chão. A casa gira, eu fico tonta, me sento na cadeira, tu entras na cozinha dizendo que vais pegar uma água e sais de lá, sem água, sem nada, de mãos dadas com uma moça até bonitinha, mas de sorriso morto e me apresentas como tua namorada. Ela me cumprimenta num tchau enquanto tu arrastas pela mão, vocês entram no quarto; eu escuto umas batidas, meu coração acelera, vou até a porta de enxerida, enquanto ainda pensava em como ter aquela conversa, logo, sais de mochila de novo, desta vez, mais homem do que nunca, com uma mala de rodas na outra mão. Eu pergunto para onde vais, tu dizes que vais seguir a vida. Que vais atrás dos teus sonhos. Vai correr atrás de ser feliz. Antes mesmo de argumentar: “Mas aqui tu não é feliz? Eu não te fiz feliz?”, não dá tempo. Interrompes, dizendo que me ama e que jamais esquecerás tudo que fizemos por ti. Eu nem me lembro. Parece que eu não estava aqui.

Sais com a mala e me deixas ali com o coração apertado, na sala agora, ecoa o vazio da minha solidão. Eu fecho a porta do armário velho de jogos de tabuleiro que tu deixaste aberta, que agora arranha ao movimento, procuro um pano para limpar a gota de sangue na quina da mesa. Teu pai entra em casa e me vê triste, me fala aquela clássica “É para isso que criamos os filhos”. O telefone toca. Eu atendo, ouço tua voz e com mais saudade do que nunca, falo contigo, pergunto como estás, quero saber tudo que aconteceu e novamente nem consigo ouvir a resposta. A ligação cai.

Volto à mesa desolada. Aperto a minha barriga, que agora dói mais, não no corte, desta vez vazia de ti e cheia de saudade. Teu pai vai até o armário. Pega um jogo, daqueles que chamaste de velho, o meu preferido, me dá um beijo na testa, abre o tabuleiro e começa a montar o tabuleiro como nos velhos tempos. Ele começa a distribuir as peças, mas somos interrompidos.

Uma mãozinha surge na beirada da mesa, querendo mexer nas pecinhas coloridas.

Tu abres a porta com aquela moça insossa ao teu lado, agora já mais bronzeada, agarra o pequeno peralta e me diz para não deixar ele mexer ali, ele pode engolir, estou acostumando mal o teu filho.

Teu pai pega o neto no colo. Eu corro pra te abraçar, te aperto como nunca, meu coração é só uma alegria juvenil enquanto tu dizes: “Que tola mãe! Nós estamos aqui.”

Eu sei, estás aqui. Dentro de mim.

Para todo o sempre.

 IZABELLA CRISTINA CRISTO CUNHA (SP)

Primeiro Lugar Prosa XVI Jornada Médico-Literária SOBRAMES SP

 

INFINITUDE E PASSAGEM

 

Uma homenagem aos 30 anos como membro associado da SOBRAMES SP, degustando o maravilhoso sabor de sua história.

 

Quanto tempo se passou desde o último sorriso franco, quando a sombra da tristeza ainda não se espalhava sob o manto estelar?

A vida de então era feita da ilusão de potência e de momentos sem escassez de sonhos, uma dança lenta que se fazia ao sabor das circunstâncias, tal o minueto da realeza que exibe seu manto com adornos de brilho e destaque para ser apreciado.

O passar vagaroso de um tempo infinito ainda permitia a tudo corrigir, porque o caminho, longo e farto, não contabilizava horas com pensamentos e reflexões, apenas com um sentir de infinitude que palpitava eternidade.

Se as colheitas não eram imediatas, pelo menos se mostravam promissoras e a roda da fortuna trazia convites e imensas possibilidades. Inesgotáveis, atraentes, sedutoras. Disperso em brilho e aromas adocicados e cítricos, tudo se apresentava como percurso perfumado que oferecia acesso ao pomar generoso de todas as coisas.

Quanto tempo se passou desde que a natureza decidiu podar os fartos galhos das árvores, deixando crescer vegetação selvagem nos frescos jardins, fazendo com que os raios de sol lutassem para penetrar seu brilho em dias antes recheados de promessas alvissareiras?

Primavera, verão, outono, inverno. O tempo passou, lavando ilusões que desbotaram com a cor de cada cenário. A vida seguiu seu curso a enumerar estações que se alternaram enquanto o tempo escoava alegria no ralo sideral de toda passagem.

Sucessivos dias de silêncio retumbaram no futuro não planejado. E o porvir, que parecia nunca chegar, transformou o presente de palavras elegantes em rascunhos adormecidos e livros empoeirados que mesmo assim insistiram em seu valor.

No entanto, aquilo que sobrevém encontra os que sobrevivem.

As sombras do dia começam a se desfazer com a realidade das constatações; as paisagens, antes reconhecidas com a vã garantia das certezas, foram se exibindo totalmente diferentes e sem o apelo de outrora, insípidas e quase indiferentes.

Todavia, outros campos começaram a se vestir de cor e luz. Novos plantios vão resultar em colheitas que convidarão ao desfrute do sabor e ao langor de dias fartos e cheios de promessas. Tudo se faz caminho onde tudo era apenas passagem.

Na história da vida, o movimento das mudanças é constante para a necessária transformação. Ansiedades se refrigeram com novos pensamentos e o coração finalmente encontra a paz da alma liberta.

De novo, existe um começo para suavizar vivências sentidas em perdas.

De tesouro, existem lembranças a preencher os dias, fotografias a preencher estantes, saudade a preencher vazios e uma dose de destilado ou fermentado a inebriar antigos apelos.

Contudo, a pizza saindo do forno espera o bonde do desejo assegurar assento no apetite voraz que sucede cada brinde. É a vez de a poesia colher os frutos de uma boa prosa, enquanto o retrato de Oscar Freire simula, na solidão de uma pizzaria em seu réquiem aeternam, um aceno aos colegas escritores, convidando-os a seguir sua estrada.

E, na Paulista, os semáforos continuam a alternar as cores de uma nostalgia feita de retalhos de vozes e sorrisos: pare, olhe e siga festejando o que se foi e o que virá.

Um outdoor exibe Carlitos convidando ao sonho da ribalta entre as luzes da cidade.

Novo cenário. Nova cena. Nova claque.

E tudo seguirá seu curso, ainda que por outros caminhos...

 

JOSYANNE RITA DE ARRUDA FRANCO

Segundo Lugar Prosa XVI Jornada Médico-Literária SOBRAMES SP

 

SEMANA DE ARTE MODERNA - RAÍZES

 


        Não pretendendo discorrer estruturalmente sobre esse movimento tão importante para a história cultural brasileira, particularizei o subtítulo – RAÍZES – por serem estas criadoras e mantenedoras de uma forma de vida, mas que se mantêm ocultas.

Tenho observado uma grande e injusta cobertura midiática do centenário deste evento, talvez superficialmente considerado como marco do reconhecimento e imposição do modernismo brasileiro, porém, o destaque tem sido a figuras marcadas e cristalizadas no transcurso destes 100 anos.

Em momento algum ouvi da comunicação social de massa a referência a PAULO DA SILVA PRADO e JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA. Antecipo que sem eles não haveria a Semana de 22.

Graça Aranha, que pela sua importância para a realização do evento, recebeu, como todos sabemos, a honrosa missão de fazer o discurso de abertura. O seu prestígio estava assentado em dois fortes pilares: O primeiro era o seu status de intelectual por ser um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e o segundo por transitar, com desenvoltura, na sociedade aristocrática de São Paulo.

Aí entra Paulo Prado, um grande empresário, um dos primeiros exportadores de café do Brasil, além de múltiplos ramos de negócio, simpatizante da cultura e grande amigo de Graça Aranha. Então, deste vieram os recursos pecuniários para a promoção do evento artístico-literário. Paulo Prado foi o mecenas da Semana de Arte Moderna de 22.

Graça Aranha sempre lhe encaminhava novos artistas e escritores à cata de patrocínio. Inclusive o grande pintor modernista Di Cavalcanti, confessa que, mesmo sem ser apreciador do seu estilo artístico e seus trabalhos, Graça Aranha o fez chegar a Paulo Prado por um cartão de apresentação e fez o mesmo com muitos dos modernistas da semana de 22.

Graça Aranha, como diplomata, viveu na Europa, onde conheceu em Paris o Sr. Eduardo Prado, tio do Paulo, o que os uniu em 1911, quando Graça Aranha veio ao Brasil. Mas, nesse ambiente de amistosidade, havia uma fragrância feminina que pôs nova direção no caminhar do eminente diplomata: Nazaré, irmã de Paulo. Nazaré Prado, com a qual Graça Aranha inicia um fervoroso caso de amor, mas volta logo para a Europa, retornando a relação somente em 1921 até sua morte em 1931. Lembrando que ele era casado desde 1989 com Maria Genoveva, filha do Governador do Rio de Janeiro e ela com o advogado Oduvaldo Pacheco da Silva.

Em uma audaciosa entrevista ao jornalista Joel Silveira, em 1943, que está registrada em seu livro “Tempo de contar”, livro este que recebeu o Prêmio Jabuti 1986, Nazaré Prado faz duas afirmações contundentes:

Primeira: “Graça Aranha nunca foi um modernista” e segue: ele é incompreensível! Amante de novas ideias, eterno apaixonado da mocidade, mas no fundo um grande romântico e sentimental. Guardo comigo perto de três mil cartas dele e o seu romantismo e sentimentalismo estão distribuídos nelas através de três mil formas diversas. Ele sempre dizia que o que era perfeito não tinha data.

Segunda afirmação: “Fui causadora da semana de arte moderna” e continua: Graça Aranha era um homem de ímpetos e de uma grande força de vontade. Para alcançar os seus fins escolhia, por vezes, os caminhos mais inesperados. Pode parecer demais presunçoso o que eu digo. Mas, explico: Naquela época, 1922, eu estava em São Paulo, na casa da minha família. Graça Aranha precisava de qualquer pretexto para me ver. A Semana de Arte Moderna foi um belo pretexto. Belo e marcante.

A minha opinião é que o movimento foi oportuno para apresentar um progresso de ideias, o que é muito lógico na civilização, mas que não se encerrou naquela semana, será eterno e conviverá com toda forma de arte sem criar nenhuma.

Não acredito que o evento tenha influenciado na forma, pois nossos modernistas são intrínsecos, nasceram criando a seu modo. O difícil é rotular cada um.

Finalizo oferecendo estas carreirinhas de palavras, como se fosse a linha do Equador que passa pelo Amapá ao meu confrade LUIZ JORGE FERREIRA da SOBRAMES/SP, porque até hoje não sei se sua escrita é moderna de 1922, cósmica ou futurista.

 

ARQUIMEDES VIEGAS VALE

Terceiro Lugar Prosa XVI Jornada Médico-Literária SOBRAMES SP

ESCRITURA

 


Sobre as mãos antigas da minha avó

Havia um pergaminho todo escrito

De tinta azul do rio azul

Que corria embaixo dele

Eu não sabia ler a escrita de pergaminhos

Depois as mãos da minha mãe

Se pergaminharam também

Mas eu ainda não sabia ler

A escrita de pergaminhos

Um dia o rio azul secou

Sob o pergaminho das mãos

Da mãe e da avó

Aí surgiram pergaminhos

Nas minhas mãos

Escrita de pergaminhos

Se aprende

Leitura não.

 

MÁRCIA DA SILVA SOUSA (MA)

Primeiro Lugar Poema XVI Jornada Médico-Literária SOBRAMES SP

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