quinta-feira, 27 de outubro de 2022

SEMANA DE ARTE MODERNA - RAÍZES

 


        Não pretendendo discorrer estruturalmente sobre esse movimento tão importante para a história cultural brasileira, particularizei o subtítulo – RAÍZES – por serem estas criadoras e mantenedoras de uma forma de vida, mas que se mantêm ocultas.

Tenho observado uma grande e injusta cobertura midiática do centenário deste evento, talvez superficialmente considerado como marco do reconhecimento e imposição do modernismo brasileiro, porém, o destaque tem sido a figuras marcadas e cristalizadas no transcurso destes 100 anos.

Em momento algum ouvi da comunicação social de massa a referência a PAULO DA SILVA PRADO e JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA. Antecipo que sem eles não haveria a Semana de 22.

Graça Aranha, que pela sua importância para a realização do evento, recebeu, como todos sabemos, a honrosa missão de fazer o discurso de abertura. O seu prestígio estava assentado em dois fortes pilares: O primeiro era o seu status de intelectual por ser um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e o segundo por transitar, com desenvoltura, na sociedade aristocrática de São Paulo.

Aí entra Paulo Prado, um grande empresário, um dos primeiros exportadores de café do Brasil, além de múltiplos ramos de negócio, simpatizante da cultura e grande amigo de Graça Aranha. Então, deste vieram os recursos pecuniários para a promoção do evento artístico-literário. Paulo Prado foi o mecenas da Semana de Arte Moderna de 22.

Graça Aranha sempre lhe encaminhava novos artistas e escritores à cata de patrocínio. Inclusive o grande pintor modernista Di Cavalcanti, confessa que, mesmo sem ser apreciador do seu estilo artístico e seus trabalhos, Graça Aranha o fez chegar a Paulo Prado por um cartão de apresentação e fez o mesmo com muitos dos modernistas da semana de 22.

Graça Aranha, como diplomata, viveu na Europa, onde conheceu em Paris o Sr. Eduardo Prado, tio do Paulo, o que os uniu em 1911, quando Graça Aranha veio ao Brasil. Mas, nesse ambiente de amistosidade, havia uma fragrância feminina que pôs nova direção no caminhar do eminente diplomata: Nazaré, irmã de Paulo. Nazaré Prado, com a qual Graça Aranha inicia um fervoroso caso de amor, mas volta logo para a Europa, retornando a relação somente em 1921 até sua morte em 1931. Lembrando que ele era casado desde 1989 com Maria Genoveva, filha do Governador do Rio de Janeiro e ela com o advogado Oduvaldo Pacheco da Silva.

Em uma audaciosa entrevista ao jornalista Joel Silveira, em 1943, que está registrada em seu livro “Tempo de contar”, livro este que recebeu o Prêmio Jabuti 1986, Nazaré Prado faz duas afirmações contundentes:

Primeira: “Graça Aranha nunca foi um modernista” e segue: ele é incompreensível! Amante de novas ideias, eterno apaixonado da mocidade, mas no fundo um grande romântico e sentimental. Guardo comigo perto de três mil cartas dele e o seu romantismo e sentimentalismo estão distribuídos nelas através de três mil formas diversas. Ele sempre dizia que o que era perfeito não tinha data.

Segunda afirmação: “Fui causadora da semana de arte moderna” e continua: Graça Aranha era um homem de ímpetos e de uma grande força de vontade. Para alcançar os seus fins escolhia, por vezes, os caminhos mais inesperados. Pode parecer demais presunçoso o que eu digo. Mas, explico: Naquela época, 1922, eu estava em São Paulo, na casa da minha família. Graça Aranha precisava de qualquer pretexto para me ver. A Semana de Arte Moderna foi um belo pretexto. Belo e marcante.

A minha opinião é que o movimento foi oportuno para apresentar um progresso de ideias, o que é muito lógico na civilização, mas que não se encerrou naquela semana, será eterno e conviverá com toda forma de arte sem criar nenhuma.

Não acredito que o evento tenha influenciado na forma, pois nossos modernistas são intrínsecos, nasceram criando a seu modo. O difícil é rotular cada um.

Finalizo oferecendo estas carreirinhas de palavras, como se fosse a linha do Equador que passa pelo Amapá ao meu confrade LUIZ JORGE FERREIRA da SOBRAMES/SP, porque até hoje não sei se sua escrita é moderna de 1922, cósmica ou futurista.

 

ARQUIMEDES VIEGAS VALE

Terceiro Lugar Prosa XVI Jornada Médico-Literária SOBRAMES SP

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