Tenho observado
uma grande e injusta cobertura midiática do centenário deste evento, talvez
superficialmente considerado como marco do reconhecimento e imposição do
modernismo brasileiro, porém, o destaque tem sido a figuras marcadas e
cristalizadas no transcurso destes 100 anos.
Em momento algum
ouvi da comunicação social de massa a referência a PAULO DA SILVA PRADO e JOSÉ
PEREIRA DA GRAÇA ARANHA. Antecipo que sem eles não haveria a Semana de 22.
Graça Aranha,
que pela sua importância para a realização do evento, recebeu, como todos
sabemos, a honrosa missão de fazer o discurso de abertura. O seu prestígio
estava assentado em dois fortes pilares: O primeiro era o seu status de
intelectual por ser um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e o
segundo por transitar, com desenvoltura, na sociedade aristocrática de São
Paulo.
Aí entra Paulo
Prado, um grande empresário, um dos primeiros exportadores de café do Brasil,
além de múltiplos ramos de negócio, simpatizante da cultura e grande amigo de
Graça Aranha. Então, deste vieram os recursos pecuniários para a promoção do
evento artístico-literário. Paulo Prado foi o mecenas da Semana de Arte Moderna
de 22.
Graça Aranha sempre lhe encaminhava
novos artistas e escritores à cata de patrocínio. Inclusive o grande pintor
modernista Di Cavalcanti, confessa que, mesmo sem ser apreciador do seu estilo
artístico e seus trabalhos, Graça Aranha o fez chegar a Paulo Prado por um
cartão de apresentação e fez o mesmo com muitos dos modernistas da semana de
22.
Graça Aranha,
como diplomata, viveu na Europa, onde conheceu em Paris o Sr. Eduardo Prado,
tio do Paulo, o que os uniu em 1911, quando Graça Aranha veio ao Brasil. Mas,
nesse ambiente de amistosidade, havia uma fragrância feminina que pôs nova
direção no caminhar do eminente diplomata: Nazaré, irmã de Paulo. Nazaré Prado,
com a qual Graça Aranha inicia um fervoroso caso de amor, mas volta logo para a
Europa, retornando a relação somente em 1921 até sua morte em 1931. Lembrando
que ele era casado desde 1989 com Maria Genoveva, filha do Governador do Rio de
Janeiro e ela com o advogado Oduvaldo Pacheco da Silva.
Em uma audaciosa
entrevista ao jornalista Joel Silveira, em 1943, que está registrada em seu
livro “Tempo de contar”, livro este que recebeu o Prêmio Jabuti 1986, Nazaré
Prado faz duas afirmações contundentes:
Primeira: “Graça
Aranha nunca foi um modernista” e segue: ele é incompreensível! Amante de novas
ideias, eterno apaixonado da mocidade, mas no fundo um grande romântico e
sentimental. Guardo comigo perto de três mil cartas dele e o seu romantismo e
sentimentalismo estão distribuídos nelas através de três mil formas diversas.
Ele sempre dizia que o que era perfeito não tinha data.
Segunda
afirmação: “Fui causadora da semana de arte moderna” e continua: Graça Aranha
era um homem de ímpetos e de uma grande força de vontade. Para alcançar os seus
fins escolhia, por vezes, os caminhos mais inesperados. Pode parecer demais
presunçoso o que eu digo. Mas, explico: Naquela época, 1922, eu estava em São
Paulo, na casa da minha família. Graça Aranha precisava de qualquer pretexto
para me ver. A Semana de Arte Moderna foi um belo pretexto. Belo e marcante.
A minha opinião
é que o movimento foi oportuno para apresentar um progresso de ideias, o que é
muito lógico na civilização, mas que não se encerrou naquela semana, será
eterno e conviverá com toda forma de arte sem criar nenhuma.
Não acredito que
o evento tenha influenciado na forma, pois nossos modernistas são intrínsecos,
nasceram criando a seu modo. O difícil é rotular cada um.
Finalizo
oferecendo estas carreirinhas de palavras, como se fosse a linha do Equador que
passa pelo Amapá ao meu confrade LUIZ JORGE FERREIRA da SOBRAMES/SP, porque até
hoje não sei se sua escrita é moderna de 1922, cósmica ou futurista.
ARQUIMEDES
VIEGAS VALE
Terceiro Lugar
Prosa XVI Jornada Médico-Literária SOBRAMES SP
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