quinta-feira, 28 de abril de 2022

VIDA MODERNA

  


Comemoramos 100 anos da Semana da Arte, evento considerado importante na cidade de São Paulo, com propostas renovadoras e ambiciosas em todos os aspectos das artes. A antropofagia, termo cunhado na época, seria uma metáfora de um processo digestivo, como ingerir o trabalho artístico estrangeiro, assimilar, deglutir e expelir com características próprias dos artistas em busca de identidade nacional. Esse movimento atingiu múltiplos cenários da cultura brasileira na busca de autonomia e desenvolvimento.

Nesse século que nos separa desse movimento marcante, o planeta passou por grandes transformações que nos atingem e nos ameaçam. Guerras movimentos separatista, globalização, expansões tecnológicas, problemas climáticos; tivemos avanços e retrocessos, enfim uma gama incontável de inquietudes.

Qual seria nossa preocupação atual, para estarmos calibrados com as necessidades sociais e culturais contemporâneas?

O grande artista Charles Chaplin, no filme Tempos Modernos, em 1936, impactou o público com humor, romantismo e astúcia. Encenou a aceleração do homem com advento da Revolução Industrial. Chaplin mostrou os caminhos do estresse dos trabalhadores diante da produção esperada com as novas máquinas automáticas. Os movimentos repetitivos decorridos desse tipo de trabalho foi uma demonstração artística de um processo de  esvaziamento da mente humana,  tornando-nos alheios à nós mesmos, condição que segue até os dias de hoje em muitas atividades.

A vida moderna trouxe sim muito progresso com a tecnologia da informática, no entanto, a velocidade gerada pela agilidade que as comunicações são processadas via internet nos colocou na correria de alcançar o tempo, e esse nos escapa. A fluidez dos momentos, como bem descreveu o sociólogo Bauman em 2006, nos torna pessoas sem atenção, com dificuldade de vínculos, seres solitários e altamente individualistas.

Nessa aceleração fugidia, onde se encontra nossa sensibilidade, nossa humanidade? Penso não termos respostas prontas, contudo essas preocupações desencadearam ações muito realistas e pontuais.

No ensino fundamental estimulam as crianças com figuras para distinguirem faces alegres das tristes, diferenciarem faces de raiva das calmas. Será esse um caminho natural? Têm-se aulas de humanidades nas escolas médicas que sensibilizam estudantes a entrarem em contato e recuperarem suas vivências e sentimentos profundos. Compaixão, empatia, são agora ensinadas em aulas com presença obrigatória.

A vida moderna nos sequestrou características tão peculiares e próprias do ser humano, conseguiremos a tempo restaurar nossa humanidade ?


SUZANA GRUNSPUN

 (Texto vencedor da Super Pizza de fevereiro de 2022 com o tema “Vida Moderna) 

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