Uma homenagem aos 30 anos como membro associado da
SOBRAMES SP, degustando o maravilhoso sabor de sua história.
Quanto tempo se
passou desde o último sorriso franco, quando a sombra da tristeza ainda não se
espalhava sob o manto estelar?
A vida de então
era feita da ilusão de potência e de momentos sem escassez de sonhos, uma dança
lenta que se fazia ao sabor das circunstâncias, tal o minueto da realeza que
exibe seu manto com adornos de brilho e destaque para ser apreciado.
O passar
vagaroso de um tempo infinito ainda permitia a tudo corrigir, porque o caminho,
longo e farto, não contabilizava horas com pensamentos e reflexões, apenas com
um sentir de infinitude que palpitava eternidade.
Se as colheitas
não eram imediatas, pelo menos se mostravam promissoras e a roda da fortuna
trazia convites e imensas possibilidades. Inesgotáveis, atraentes, sedutoras.
Disperso em brilho e aromas adocicados e cítricos, tudo se apresentava como
percurso perfumado que oferecia acesso ao pomar generoso de todas as coisas.
Quanto tempo se
passou desde que a natureza decidiu podar os fartos galhos das árvores,
deixando crescer vegetação selvagem nos frescos jardins, fazendo com que os
raios de sol lutassem para penetrar seu brilho em dias antes recheados de
promessas alvissareiras?
Primavera,
verão, outono, inverno. O tempo passou, lavando ilusões que desbotaram com a
cor de cada cenário. A vida seguiu seu curso a enumerar estações que se
alternaram enquanto o tempo escoava alegria no ralo sideral de toda passagem.
Sucessivos dias
de silêncio retumbaram no futuro não planejado. E o porvir, que parecia nunca
chegar, transformou o presente de palavras elegantes em rascunhos adormecidos e
livros empoeirados que mesmo assim insistiram em seu valor.
No entanto,
aquilo que sobrevém encontra os que sobrevivem.
As sombras do
dia começam a se desfazer com a realidade das constatações; as paisagens, antes
reconhecidas com a vã garantia das certezas, foram se exibindo totalmente
diferentes e sem o apelo de outrora, insípidas e quase indiferentes.
Todavia, outros
campos começaram a se vestir de cor e luz. Novos plantios vão resultar em
colheitas que convidarão ao desfrute do sabor e ao langor de dias fartos e
cheios de promessas. Tudo se faz caminho onde tudo era apenas passagem.
Na história da
vida, o movimento das mudanças é constante para a necessária transformação.
Ansiedades se refrigeram com novos pensamentos e o coração finalmente encontra
a paz da alma liberta.
De novo, existe
um começo para suavizar vivências sentidas em perdas.
De tesouro,
existem lembranças a preencher os dias, fotografias a preencher estantes,
saudade a preencher vazios e uma dose de destilado ou fermentado a inebriar
antigos apelos.
Contudo, a pizza
saindo do forno espera o bonde do desejo assegurar assento no apetite voraz que
sucede cada brinde. É a vez de a poesia colher os frutos de uma boa prosa,
enquanto o retrato de Oscar Freire simula, na solidão de uma pizzaria em seu
réquiem aeternam, um aceno aos colegas escritores, convidando-os a seguir sua
estrada.
E, na Paulista,
os semáforos continuam a alternar as cores de uma nostalgia feita de retalhos
de vozes e sorrisos: pare, olhe e siga festejando o que se foi e o que virá.
Um outdoor exibe
Carlitos convidando ao sonho da ribalta entre as luzes da cidade.
Novo cenário.
Nova cena. Nova claque.
E tudo seguirá
seu curso, ainda que por outros caminhos...
JOSYANNE RITA DE
ARRUDA FRANCO
Segundo Lugar
Prosa XVI Jornada Médico-Literária SOBRAMES SP
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