Por: Guaracy Lourenço da Costa
CIRURGIA PLÁSTICA
(in memoriam)
1935 - 2018
Cristóvão Colombo
nasceu num dos vales de Gênova, na Itália e, junto com seu irmão Bartolomeu,
gostava da navegação. Foi nesse gosto que ele procurou os Reis Católicos da
Espanha para expor seu plano de descobrir novas terras no ocidente e depois
partir para a libertação de Jerusalém.
Descobriu
a América e foi festejado na Espanha ao retornar, recebendo do Rei os títulos de
Almirante e de Vice-Rei. Ficou por ali uns tempos, sem imaginar que a
espanholada do povo estava com inveja e com raiva dele.
Certa
tarde de sábado, ele estava numa taberna jogando caxangá, quando entraram uns
15 a 20 pescadores que o rodearam de forma zombeteira. Um deles, mais ousado,
disse a Colombo: “Não queira você dar uma de gostoso aqui no país que nem é
seu; você não fez nada de especial, a América já estava lá e qualquer um que
fosse praqueles lados a descobriria, não precisava ser você, tá?”
O
experiente Colombo estava com 72 anos na época e não iria querer enfrentar os
pescadores no braço. Pediu ao dono da cantina um ovo cozido e perguntou aos
pescadores quem seria capaz de colocá-lo de pé sobre a ponta mais fina.
Ninguém
conseguiu, Colombo colocou o ovo em pé da forma que todos sabem e o ofensor
retrucou: “desse jeito qualquer um coloca o ovo em pé!” Colombo virou-se pra ele e disse calmamente:
“Pois é fácil depois de ver como eu fiz; agora que já descobri a América, até
um pescador como qualquer um de vocês já sabe que, navegando para o leste,
encontrará as terras que achei... Se me dão licença, tenho um compromisso com
meu amigo Américo Vespúcio; logo vocês irão saber de novas descobertas que
faremos; Adeus!”
A
história do ovo é clássica para significar descobertas que, depois de
consumadas, parecem simples. O Dicionário do Aurélio assim define: “Ovo de
Colombo é uma coisa fácil de realizar,
mas em que não se pensou antes de vê-la realizada por outra pessoa.”
Entre
nós Médicos, há milhares de descobertas que se enquadram no rol dos ovos de
Colombo: técnicas cirúrgicas, novos medicamentos, novas síndromes, vacinas, até
anti-sépticos.
Há
dois ovos de Colombo da Medicina que aprecio muito. O primeiro é aquele lance
de encher uma luva cirúrgica com água, amarrá-la e colocar debaixo dos
calcanhares de pacientes em coma para evitar escaras ali.
Na
década de setenta, li numa revista sobre um ovo de Colombo que havia sido
idealizado, destinado ao diagnóstico dos oxiúros.
Como
todos sabem, os oxiúros são pequenos vermes semelhantes a pequenos fios de
linha, cujas larvas descem ao ânus durante a noite e começam a pinicar. Às
vezes descem também durante o dia, causando um vexaminoso prurido.
Quando
o paciente vê os vermes adultos saírem nas fezes, ele conta pro Médico e já
recebe a receita cabível. O problema
está no diagnóstico dos oxiúros para aqueles que somente têm a bandida da
coceira anal.
O que li na
revista foi para diagnosticar os casos
só de coceira: De manhã, antes de fazer
a higiene, o paciente pega um pedaço de fita adesiva tipo Durex, encosta no
ânus e gruda em seguida numa lâmina de microscópio. No laboratório, os técnicos
vão ver se encontram larvas de oxiúros na fita e está feito o diagnóstico.
Naquela
época, fui num sábado à tarde visitar um casal de amigos na Vila Xavier, em
Araraquara. Daí a pouco, apareceu por lá um jovem de vinte e poucos
anos que estava namorando a filha do casal. Quando ele saiu, ouvi a mãe dizer
pra filha, enquanto me fazia um cafezinho: “Larga mão de namorar esse cara, ele
não tira a mão do fiofó, só coça, só coça, que coisa horrível!”
Fiquei
com dó do rapaz, cujos pais eu conhecia. Procurei por ele no dia seguinte e
perguntei discretamente se ele tinha oxiúros. Moço simples, ele nem sabia o que
era isto.
Expliquei-lhe
sobre os referidos bichos e sobre o uso da fita adesiva. Dei a ele uma lâmina
de microscópio, expliquei como colar e falei pra ele pôr o produto num
saquinho, e me trazer, que eu levaria ao laboratório pra ele.
Dois
dias depois, ele me procurou para contar o que havia acontecido, meio rindo e
meio sem graça.
Envergonhado,
ele não havia contado pra ninguém da família sobre o exame esquisito que lhe
havia mandado fazer. De manhã, ele foi
ao banheiro com o rolo de Durex, puxou um pedaço enorme e, com muito nojo,
segurando numa ponta e na outra encostou-o pelo rego afora para colher as
pretendidas larvas.
Antes
de cortar o pedaço para colá-lo na lâmina de vidro, o telefone tocou e ele
colou a ponta da fita na beirada da pia, deixando o rolo pendente.
A
conversa levou alguns minutos. Quando ele retornou ao banheiro, não viu mais o
rolo da fita adesiva. Esquecendo-se do segredo que estava mantendo, ele começou
a gritar pela casa: “Onde estão meus oxiúros? Onde estão meus oxiúros?” A mãe dele veio correndo e ele consertou a
frase perguntando pela fita adesiva. A mãe respondeu: “Acho que sua irmã
colocou na gaveta da escrivaninha; hoje é aniversário do Jorginho, namorado
dela; vi ela agora há pouco embrulhando o presente dele...”
Disse-me
o jovem ao final: “Pois é, Doutor Guaracy, se eu tinha esse tal de oxiúros nas
tripas, já tô livre deles porque eles foram tudo lá pra casa do Jorginho...”
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