Todas essas coisas que dependurei no
tempo...
Ou engavetei na memória... criaram
teias.
Todos esses contos, crônicas, poemas e romances, que engalhardei de virgulas, reticências, tremas, e exclamações.
Estão pasmos com a minha voz.
Espantados com a minha lentidão.
E surpresos com o meu abandono pessoal.
Arrasto meu corpo mais osso que
ansiedade.
Por essa cidade.
A pé ou cavalgado de saudades.
Eu continuo a me dizer que de uma
estação a outra nesse trem...
São dez anos.
Quantos já desceram e quantos embarcaram
com as suas faces imberbes
Assustados com a viagem dando atenção a
cada ruído que a máquina cria no seu trajeto tortuoso.
Resta-me os passos com que entrei... os
poros desalinhados... os podres dias de outono em que palitei a primavera.
As pessoas com quem fiz planos são fotos
descoradas na parede do corredor vazio.
Tantos solavancos a nos espantar...
Assusta a alma que balanceia com o
trepidar do trem, dentro do porta cédulas junto com algumas moedas inválidas de
centavos.
Luiz Jorge
Ferreira
Vencedor do
Prêmio Bernardo de Oliveira Martins 2021
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