quarta-feira, 30 de outubro de 2019

EXTRAORDINÁRIO - A FAMÍLIA

Por: Suzana Grunspun
PSIQUIATRIA
     
      A família de August, o menino do filme Extraordinário, tem uma boa convivência, mas quando as dificuldades aparecem mostram-se ambivalentes, pois trocam afeto entre si e ao mesmo tempo se mostram disfuncionais. Não podemos esquecer do relevante papel da mãe, pai e irmã; solidários, porém, protetores diante das dificuldades. Acompanhamos o quanto esse núcleo promove uma certa infantilização em Auggie que amadurece ao longo de sua jornada. Sua volta para casa, no primeiro dia de aula é turbulenta e sofrida. Muito bem ilustrada na cena do diálogo com os pais, eles lhe dão a possibilidade de desistir da escola por entenderem as grandes dificuldades inerentes à aparência do filho. A decisão do filho é de continuar; ele sente a necessidade de crescer e se desenvolver e admite que precisa afastar-se de sua vida em casa, da professora –  mãe e ter novos professores.
Os pais dispensam muita atenção ao Auggie que é o centro do universo e sacrificam um olhar mais cuidadoso para a irmã Olivia, na intimidade chamada de Via, que é colocada na situação de compreensiva e que pode abandonar suas próprias necessidades em detrimento das necessidades imperiosas do irmão.
A mãe deixou de lado sua vida profissional de desenhista e sua pós graduação, passa só a fazer figuras do menino, tudo por causa de Auggie. Ela também sente não estar dando conta do seu projeto familiar com receio dos possíveis fracassos do filho, no entanto, eles com seu amor são também modelo para outras crianças, como uma menina, a melhor amiga de Via, que se afasta por inveja desse núcleo familiar de muita ternura e cumplicidade.
Esse amparo familiar transmite segurança para Auggie enfrentar, nos dias que seguem, a agressividade dos colegas da classe ou o isolamento que sente durante o intervalo das aulas. Na escola ele evoca personagens do clássico filme Star Wars, de George Lucas. Esses personagens permeiam muitas cenas e inserem questões importantes para se refletir. Ora ele se depara nos seus devaneios com personagens que representam o mal, ora com personagens que são representantes do bem e com todos eles se identifica por serem figuras estranhas mas também heróis consagrados do cinema. Esses personagens que são ligados às brincadeiras com o pai aparecem em sua mente como apoio para situações conflitivas e facilitam a sua elaboração para um caminho da superação bem como no seu empenho em se socializar.
Aos poucos a família se ajusta à nova condição e acontece uma modificação na vida  de todos. A separação de Auggie do núcleo familiar gera individuação da mãe e de Via, cada uma com suas conquistas. A finalização da tese da mãe e a apresentação de Via no teatro da escola, ocasião em que  todos vão reconhecer e aplaudir sua encenação, como a reaproximação da melhor amiga e também a conquista de um namorado. Auggie também amplia sua socialização e consegue expandir seu grupo de amizades, sendo reconhecido como amigo e companheiro  de viagens.
O filme é um convite para se refletir como os aspectos emocionais podem expressar-se positivamente se houver apoio para as crianças superarem suas dificuldades e melhorarem sua auto estima. Finalizo lembrando que a inclusão de uma criança quando bem trabalhada pelo ambiente facilita o reconhecimento e iden-tidade de cada uma, proporcionando desen-volvimento dos potencias herdados e das capacidades adquiridas e auxiliando dessa forma na realização humana.
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*O filme Extraordinário, dirigido por  Stephen Chbosky, é a história de um menino, August Pullman (Auggie) de 10 anos que é portador da Síndrome Treacher Collins.

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