sábado, 28 de março de 2020

UM TROFÉU

Por: Josias Pereira dos Santos
CARDIOLOGIA

Vaguei ao léu, perdido nos meus dias
Tão inútil de amor era a procura.
Perambulei indigno nas porfias 
Que minha alma travava entre loucura.

Perambulando errei por muitas vias
Em busca de um amor a ter por cura.
E nessas esquisitas agonias
Eu vivia uma trama de amargura.

Mas tu apareceste em meu caminho 
Como um presente advindo lá do céu
Pra corrigir de vez meu desalinho.

E fico a meditar... se estive ao léu 
Foi pra te encontrar com teu carinho
Que o destino me trouxe por troféu.

terça-feira, 24 de março de 2020

JOVENS MULHERES


Por: Camilo André Mércio Xavier
ORTOPEDIA

Guerreiras, perseverantes
assumindo ideias novas
donas de suas horas
ganharam o mundo
mantiveram-se jovens
fizeram escola

isso é tudo o que vale
continuem formosas
de espírito e de ação
pelo belo presente
meu coração vibra
e beija enternecido
suas abençoadas mãos

sábado, 21 de março de 2020

DIÁLOGO


Por: Josef Tock
OFTALMOLOGIA

Estou de passagem
por uma plêiade de estrelas,
a bordo da nave espacial
fitando horizontes cósmicos.

Estou de passagem
sem fazer conjecturas,
procurando informações
à existência de outras vidas.

Coletando fragmentos de Sol
um pedaço daqui
se adere a outro ali,
iluminando minha vigília.

Àquela estrela colorida
juntarei no aconchego
das sombras evanescidas,
os sonhos e as réstias de luar.

Na escuridão do espaço
reunirei todas as estrelas
para com elas dialogar.

quarta-feira, 18 de março de 2020

A MULHER E O PODER


Por: Maria do Céu Coutinho Louzã
RELAÇÕES PÚBLICAS

Cena nº 1
Muito cedo pela manhã desce do ônibus uma mulher ainda jovem que, com a ajuda do motorista, baixa um carrinho-cadeira com uma criança. Esta, não muito pequena, tem uma deficiência física séria e semblante estranho. Estão próximos a um Centro de Reabilitação para onde ela se dirige, empurrando valentemente a cadeira, mas com certa dificuldade, pela calçada irregular.

Cena nª 2
Sete horas da noite. Em uma avenida de São Paulo. Um trânsito infernal como costuma ser. Num cruzamento, com sinal de trânsito, uma jovem morena, um pouco mais gorda do que magra. Em um dos braços – com uma amputação abaixo do cotovelo – carrega uma lata pendurada: um fogareiro improvisado, com carvão em brasas vermelhas. Com a outra mão segura cartuchos com amendoim, que vai oferecendo aos motoristas que param quando o farol fecha. Da cabeça desce um fio do auricular, que deve ser o rádio que a acompanha. Ela corre por entre os carros oferecendo valentemente o amendoim torrado. Fecha o sinal. Ela para, volta para a calçada e imediatamente começa a dançar. Parece acompanhar a música que deve estar ouvindo. Requebra com jeito. Parece cantar sempre olhando para os lados e para o farol. Aguarda o momento de iniciar a sua corrida em busca de fregueses, talvez para completar o seu sustento. Parece feliz.

Cena nª 3
Num cruzamento de avenida movimentada, uma família estacionada na calçada: o farol fecha e o que parecia ser o pai ia acercando-se dos carros para pedir ajuda. Três crianças se divertem, correndo de um lado para outro. A mãe e um menino, talvez com menos de um ano, sentados em um cobertor estendido no chão. Com um picolé na mão, a mãe vai oferecendo-o ao pequeno e também às outras crianças, que se aproximavam para dar umas lambidas, com-partilhando assim, aquele único sorvete. O sinal abriu e segui meu roteiro e deixei para trás mais uma história de vida.

Cena nº 4
Uma senhora ainda jovem para os anos que tem, bem vestida e penteada acaba de receber a faixa que representa o poder que lhe foi dado, por votos democráticos, em eleição para presidente do seu país, o maior da América do Sul e que está entre os maiores do planeta. Após o discurso de posse, vitoriosa e elegantemente, passa em revista a tropa que lhe deverá prestar obediência. A sua posse é vista por todos os meio televisivos e mais ao longe, uma multidão a aplaude insis-tentemente.

Cena nº 5
Em Abu Dhabi – Emirados Árabes, em visita protocolar duas mulheres caminham lado a lado. Visitarão um templo. Uma, a anfitriã, descalça, com roupas longas e um manto cingindo a cabeça de maneira a cobrir bem os cabelos. Ao seu lado, uma rainha de mais de oitenta anos. Há quase 60 anos recebeu o poder de reinar em um país ocidental, de inúmeras tradições. Também descalça (embora de meias), traja sobre a sua indumentária um casaco longo e, um lenço grande, amarrado sob o queixo, cobre-lhe o chapéu e os cabelos brancos, de acordo com costumes da terra que visita.

A algumas mulheres é dado o poder de chefe de estado, herdado, que deverão exercer por toda a vida, no seu país, sobre os seus súditos. Reinarão por herança, da maneira que lhes é imposta: por tradição e esperada pelos seus súditos.

A outras o poder lhes é dado conforme as leis de seus países: foram eleitas, por voto direto do seu povo. Assim exercerão esse poder, por tempo determinado, da melhor maneira, que a população confiante espera.

Mas por que não nos lembramos do poder, não como autoridade, mas como virtude?

O poder de uma mãe, que com sacrifício, reúne todas as suas forças, para diariamente sair de seu lar (será talvez em uma favela), carregando um filho deficiente, em busca de ajuda para sua reabilitação, para poder ter uma vida melhor. Lutam muito, numa luta silenciosa, buscando, com amor, auxílio para que os filhos sobrevivam e sejam felizes.

Onde encontrar tanto poder de amor na mãe que, vivendo uma vida errante, talvez sem um lar decente para abrigar a família, consegue adoçar momentaneamente, a alegria de seus filhos, em meio ao tumulto de uma cidade grande. E que – diante das vicissitudes – tem o poder de manter a família unida.

Aquelas que não encontrando oportuni-dade de trabalho vão à luta no dia a dia, superando uma deficiência física. Precisam lutar contra as adversidades da cidade grande, mas não desistem. Com uma força interior e de alguma forma, com criatividade trabalham hones-tamente. Conseguem sobreviver, encontrar momentos de alegria, cantando e desafiando a sua limitação e, quem sabe, serem felizes.

É impossível medir o quanto existe de poder como virtude na mulher que usa o seu coração, sem medir forças, com disposição firme e constante, para lutar nas dificuldades que a desafiam no seu dia a dia. E dessa maneira, aquelas que não encontrando oportunidade de trabalho, vão à luta no dia a dia e quem sabe com alegria. São essas e outras mais, que guardam, num coração pequeno, um grande poder de lutar  contra adversidades  todos os dias de suas vidas.

Não será mais forte esse poder na mulher, que é na realidade um sentimento de sobrevivência e de luta silenciosa e sem tantos espectadores observando?

domingo, 15 de março de 2020

COISAS QUE VIVI


Por: Pedro Durães Serracarbassa
OFTALMOLOGIA


Saudade do tempo
em que as máquinas eram de escrever
Dos amigos que perdi no caminho
Dos vizinhos que se mudaram
Da escola de porta aberta
e suas longas escadas

Dos amores que imaginei
e das mulheres que fingi amar
De dançar ingenuamente frente
a televisão
Da coleção de selos que me fez
reconhecer o mundo

De escrever estórias de começo
e fim sabidos
De procurar discos raros no centro 
De esperar meu pai chegar
e de não saber que um dia ele partiria
Da mão dada de minha mãe no parque
que hoje não reconheço mais

Do mar de horizonte sem fim
Do dinheiro contado
pra bala e pro gibi
Dos jogos de bola na rua
quebrando vidraças
Do bairro que tudo ali continha

Tudo parecia tão simples
O tempo corria mais lento
Como não viver do passado
se o presente esmaga e se apressa
em apagar o futuro.

quarta-feira, 11 de março de 2020

UM FATO RECORDA O OUTRO


Por: Luiz Jorge Ferreira
CLINICA GERAL

Após ler um texto de Fernando Canto, em que ele traz nas recordações um pouco do Carnaval de Macapá, fui levado até ao princípio dos anos 60, mais precisamente 62, em o período de maior frequência da garotada da minha geração moradora nas imediações da Sede Escoteira Veiga Cabral, no bairro do Laguinho, local em que muitos esportes eram praticados; e sob a batuta do Chefe Humberto, também, as artes: encenações de cordões juninos, peças teatrais e espetáculos musicais.

Por época de quase fevereiro de 1962, a recordação nos leva até o Bloco Caçula do Laguinho. Era um Bloco Infantil criado a partir da observação de Seu Paulino, pai do Joaquim Ramos – o Quincas – exímio passista, que com outros meninos, do lado de fora da Sede Escoteira, no espaço entre a Sede e o Campo de Treinamento do São José, munidos de latas vazias de Cera Poliflor e velhas frigideiras já sem uso, batucavam e obedeciam ao apito por assobio do Lelé; batucavam, cantavam e criavam
Sambas, muitos até copiados do Boêmios do Laguinho, ou dublês de alguns sambas enredo do Rio.

Seu Paulino colocou ordem na casa. Fez os garotos obedecerem ao posicionamento, criou paradas para a batucada fazer um breque, conseguiu fantasias para as Pastoras, Porta Estandarte e Mestre Sala e uniformes para os batuqueiros, tudo muito organizado.

Íamos já depois de muitos ensaios, às Batalhas de Confete, que aconteciam em vários bairros inclusive no próprio Laguinho, defronte a Casas Comerciais de importância renomada, por toda cidade em festa.

O Caçula do Laguinho, por ser formado por crianças na faixa dos 10 a 13 anos, tinha o acompanhamento dos pais ou responsáveis; D. Josefa, era uma dessas pessoas, com muitos dos seus filhos e filhas sendo participantes: Pedro Ramos, Joaquim Ramos, Neck e algumas das suas filhas.
No Segundo ano de Desfile, no ano de 1963, o Bloco já criava seus Sambas, coletiva-mente com Nonato, Luiz, Lelé, Saçuca, Pedro, Zeca, Tomé, Munjoca, Arlindo, Queiroz, Joaquim, Zé Paulo, Sacaquinha, seu Rô...  As irmãs, as primas, e as amigas, engrossavam o coro.

Os Caçulas do Laguinho fizeram a alegria dos pais dessa petizada Carnavalescamente precoce. O pai do Saçuca – seu Sussuarana –, providenciava os couros para os instrumentos de percussão, e as caixas de madeira para criar os tambores. O Gabi, o Zé Cueca ou o Cecilio davam um jeito de arrumar.

Afinar era fácil: uma fogueira, e pô-los a esquentar seus couros, e baquetas na mão, batendo de leve e ouvindo o som apurar no tom.

Destes participantes do Caçula, amigos de infância, muitos munidos de seus Sambas, com o som dos seus repiques no ar, não estão mais conosco. Porém muitos destes enveredaram pelo caminho da Arte e ainda nos proporcionam alegria com suas criações.

Foi só ler o texto do Fernando e parece que me arrumei na casa do Lelé. Desci a Av. Ernestino Borges: frigideira na mão, pés tirando poeira da rua e toda a felicidade na cara sorridente, nascendo as primeiras espinhas.

domingo, 1 de março de 2020

O Bandeirante nº 328 - MARÇO de 2020


O BANDEIRANTE - edição 328 - Março de 2020

Editorial: 

Homenagem às mulheres

Março registra merecidas homenagens às mulheres que há muito vem inspirando músicos, poetas e prosadores.
Para Carlos Drummond de Andrade, é próprio da mulher o sorriso que nada promete e permite tudo imaginar.
Mulher que é princesa encantada da quimera (Florbela Espanca) com irrecusável poder de atração, portão do corpo e da alma (Walt Whitman). 
Surpresa do ser (Fernando Pessoa).
Mulher que é um catavento e vai ao vento que soprar (Machado de Assis).
Que é como a própria lua, tão cheia de pudor que vive nua (Vinicius de Moraes).
Para Victor Hugo, Deus fez para o homem um trono; para a mulher fez um altar.
Mulher com graça dos olhos onde chora e ri um sonho (Paul Verlaine).
Que para falar de sua vida, tem de abaixar as quase infantis pestanas e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas (Cecília Meireles).
Para Pablo Neruda, o coração de uma mulher é o que faz o mundo girar.
Que quando fala, dos seus lábios voa uma aura suave, trescalando amores (Dante Alighieri).
Leda serenidade deleitosa que representa em terra um paraíso (Luís Vaz de Camões).
Mulher que é filha, mãe, esposa, compa-nheira, profissional, amiga, conselheira...
Que merece não apenas homenagens, mas também respeito e a mais sincera gratidão.

Márcia Etelli Coelho
Presidente da Sobrames-SP

Leia a edição completa clicando no link a seguir:
O BANDEIRANTE - MARÇO 2020
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