sábado, 18 de maio de 2019

ROSAS QUE FALAM



Por: Márcia Etelli Coelho
MEDICINA DO TRABALHO

Atrás da colina, ao raiar da alvorada,
erguia-se um vasto e formoso jardim.
Eu era criança em curiosa jornada
e as rosas contavam segredos “pra” mim.

Que a vida é ciranda e este mundo, um moinho,
girando entre o acaso e o implacável porquê.
Depressa eu cresci... Procurei outro ninho,
tentando encontrar nem eu sei mais o quê.

Talvez o desejo de ver bem feliz,
em outros locais, natureza sorrindo.
Talvez tentação... Como um mero aprendiz
sem hora ou demora, eu sorri... E fui indo.

Aos poucos, porém, muitas cordas de aço
mudaram meu passo, abalaram a calma.
O peito vazio... E em vez de um abraço,
sorriso chorado invadiu minha alma.

Perdi mocidade, ilusão e as apostas,
restando somente o revés de um avesso.
Eu olho “pro” céu e procuro respostas.
Talvez as encontre de volta ao começo.

Então eu regresso e vislumbro a colina,
a mesma que tanto encantou minha infância.
Um sonho, esquecido, tenaz, me fascina,
disperso no tempo e na longa distância.

Voltando ao jardim, eu me sinto criança
e as rosas me falam do amor que há na prece.
O Sol a nascer tinge o céu de esperança.
Milagre da vida que ainda acontece.

***

Vencedor "Prêmio Bernardo de Oliveira Martins" 2017-2018



DOCEMENTE AZEDO


Por: Luiz Jorge Ferreira
CLINICA GERAL

Vou fechar janelas.
Para que os ventos noturnos.
Não tragam lembranças de outras terras...nem seus sons.

Não quero o azedo do limão que se descascou em Dublin.
Nem a silhueta da cortina com o desenho do Kilimanjaro.
Quero o calor do Pacoval.
Trazendo suor e sal. Grudando as axilas.
Secando o cuspe da boca.
Enquanto em mim brotam dissonantes notas afônicas.
...E a mim dizem que morreu o silêncio!
Aquele mesmo silêncio que eu pensei
ter colocado entre o desenho pautado de um Fado,
e a encabulada ritmicidade de um Tango.

Desenhos rostos que se parecem tanto com rostos,
que se não se parecem tanto entre si mesmos.

Vou cerrar as janelas
Vou esfregar as pálpebras de encontro as lágrimas,
e amordaça-las com soluços.
Quiçá barulho de vidro quebrando...
deveras estalos de fraturas de ossos ... acontecendo...
Estes sons da noite me acordam...
quando demoro...silenciam...
atiçando a ansiosidade de ouvi-los novamente.
Quando me enamoro da vida...
Mastigo sombras que entram pelo vão,
entre os sons e os silêncios. 
Têm gosto de limão.
Exatamente... o mesmo gosto que guardo em mim.
Quando no quintal o galo atônito e rouco...
desperta de súbito.
Firme com a lua presa no bico.
E finge estar surpreso com a Aurora.
Finge estar surpreso, com o que lhe cerca. 
Vira-se pelo avesso
O sol lhe colore as entranhas.
Suas lembranças saem aos borbotões,
como borboletas negras.
Diria que em Outubro voltarão libélulas.
Pode ser que em Morse.Cantem a Aurora. 
Tragam Canções Americanas do Norte.
As que falam das Águias.
As que incluem corações indígenas,
pintados nas montanhas...
As que grafitando o metrô em Amsterdã...acordem o Sol.
Ou as que simplesmente perduram afônicas em Macapá...
Porque tudo que é longe, é tão próximo.
Tudo que foi Ontem, será agora!
Como meus olhos, e teu olhar longínquo
desenhado na areia da poça d'água estreita, e rasa...
em qualquer rua após uma chuva
das duas em Belém do Pará.

Avesso e não avesso.
Apagado e aceso. Estridente e rouco. Destro e direito.
Docemente... Inutilmente ...
Com as mãos no bolso onde guardo uma lua Minguante. 
Assovio melodias apaixonadas por silêncios!
No avesso dos silêncios, não sou sons... sou ímpar.    
       ***
Menção Honrosa no "Prêmio Bernardo de Oliveira Martins" 2017-2018

VENEZA, A VIAGEM


Por: Josyanne Rita de Arruda Franco
PEDIATRIA


De que é feita a viagem
Nos canais do pensamento,
Memórias entre muralhas,
Camafeus entre medalhas,
Palácios de sentimentos?
Deslizam, na superfície,
Apelos de algum momento
Embalados na cantiga
Da nostalgia bem-vinda
De antigos sentimentos.
No fosso da eternidade,
Sob a Ponte dos Suspiros,
A gôndola corta a tarde
Na mansidão da paisagem,
Sem adeus definitivo.
Veneza de doce saudade
Nas ruelas do destino
Inscrevi, um pouco tarde,
Quase na maturidade
As linhas de um desatino.
Até um dia! Quem sabe
Na voz de um gondoleiro
Antes da grande viagem
Eu não tenha só miragens,
Mas um cais... E um paradeiro.

***

Menção Honrosa no "Premio Bernardo de Oliveira Martins" 2017-2018 

quinta-feira, 9 de maio de 2019

CAMINHADA



Por: Mércia Lúcia de Melo Neves Chade
MEDICINA DO TRABALHO

No começo
Pés no chão
Devagarinho
Levanto um
Depois o outro
Vou pra frente
Sempre em frente
Indiferente
Inclemente
Como um demente

AMOR VERDADEIRO



Por: Mélida Francisca Velasco Cassanello
CARDIOLOGIA

Teu alento é o alento das flores
Teu olhar profundo, o esplendor do dia
Tua voz, o soneto da harmonia
E tua cor é a cor da rosa
Teu amor cheio de vida e esperança
Esperança de amor e ilusões
Amor que cresce dentro de mim
Como crescem as flores na primavera.



PORTA AUTOMÁTICA



Por Helio Begliomini
UROLOGIA

Embora corriqueiro num aeroporto internacional, o vaivém de pessoas e a pressa modulada pela ansiedade parecem fazer ignorar singelos pormenores que diuturnamente se sucedem em suas dependências. Não me refiro ao bailar da decolagem e aterrissagem das aeronaves... a monotonia dos check-in de passageiros... aos guturais anúncios das partidas e chegadas dos voos pronunciados sucessivamente em português, espanhol e inglês... a radioscopia das bagagens pela polícia federal ou mesmo a espera dos pertences que giram sobre uma incansável esteira rolante.
Uma simples porta de alumínio envidraçada, que se abria automaticamente com sensores de aproximação e se fechava após a saída dos recém-egressos que por ela passava, dava asas a minha imaginação. Ela era de mão única. Não servia como entrada, apenas para saída. Por ela atravessavam semblantes alegres, pensativos, preocupados, fatigados, sérios e descontraídos.
Utilizando roupas sociais, esportivas ou mesmo exóticas, os esperados desfilavam de permeio a uma plateia restrita, ansiosa e ao mesmo tempo eufórica, que se aglomerava e se modificava paulatinamente.
Vez por outra, cartazetes se elevavam facilitando a identificação de desconhecidos. Tampouco faltavam faixas amáveis dirigidas a entes queridos acompanhadas de calorosas torcidas.
O tempo parece não passar quando se anseia reencontrar um familiar, sobretudo se trata-se de um filho que ousou morar fora do país com uma família desconhecida, a pretexto de obter maior experiência pessoal e conhecimento de outro vernáculo.
A porta persistia incansavelmente no seu inexorável ritmo: abrindo e fechando. A plateia continuava se transformando a medida que de lá de dentro saiam pessoas esperadas. E a presença de familiares ora atenuava, ora acentuava a tensão compartilhada na contundente espera.
E a cada movimento automático uma expectativa. E a cada golfada de passageiros, sonhos eram saciados e temores desfeitos por outros espectadores. De chofre, entre os vaivém, ei-lo que surge, tal qual uma miragem no deserto que se materializava a medida que se ia abraçando-o, beijando-o e apertando-o, trocando assim muito calor entre nossos corpos. A espera foi tão longa quanto uma eternidade, e a chegada tão fugaz quanto a satisfação de um prazer.
De costas aos espectadores em passos firmes de retirada, a porta continuava abrindo e fechando. Com ela alternava-se a plateia para o mesmo espetáculo e na mesma ribalta. Ressurgiam expectativas, e novas ansiedades eram desfeitas. Tudo ao sabor hipnótico de um simples vaivém de uma porta automática.


ADORÁVEL GRANDALHONA



Por: Carlos Augusto Ferreira Galvão
PSIQUIATRIA

São Paulo, Brasil, trabalho, sonho, prazer
Teu duro abraço cheio de calor
Teu áspero beijo cheio de glamour
Soam para mim como linda flor
Dando linhas e cores para meu viver.

Procurei-me em ti, com tua ajuda,
Achei-me em tua colossal estrutura
Que aperta, faz nascer... Transmuda
Hoje és colo, refúgio, minha armadura.

Ah São Paulo meu destino
Num dia tua força me devora
Noutro me fazes feliz, menino
Jamais poderei sair, ir embora.

NA ESTRADA DA VIDA



Por: José Francisco Ferraz Luz
DIREITO

A orfandade dos adultos se equipara a uma estrada interrompida.
Não temos a quem pedir informação; não temos mais gasolina para voltar; ficarmos onde estamos vai anoitecer; precisamos continuar enfrentando todas as dificuldades para prosseguirmos a nossa caminhada com as próprias pernas. Só o tempo dirá quando chegaremos ao nosso destino, se fizermos a nossa parte na solução da caminhada. Precisamos cuidar dos nossos passageiros, resguardando nosso carro na estrada.
Alertados aos imprevistos que podem acontecer nos protegemos das adversidades. Nossas conversas já não são de aventura, mas de solução dos reveses no caminhar. Muitos desentendimentos ocorrerão em face da trajetória no por vir. Se calado não suportarei ouvir, ao falar não serei escutado, todos querem a solução imediata sem saber solucioná-las. Por fim atravessamos o obstáculo, cada qual com a sua bagagem, procurando o seu caminho para chegar ao seu destino conforme a sua perspicaz, recebendo o seu quinhão, herança do seu destino.
Esta realidade tão projetada no filme da vida, já teve recorde de assistência nos cinemas, sem nos darmos conta da duração da sua exibição saiu transformada pela mensagem do roteirista, sem o conhece-lo, porém de admirá-lo pela genialidade da sua autoria. 

AMPULHETA SEM FIM



Por Sérgio Gemignani
PSIQUIATRIA

Como uma ampulheta sem fim,
Sinto a vida escoando,
Em cada grão que cai,
Em cada minuto que passa.

Sinto-me como se fosse cada grão
Que passa pelo estreito canal,
Que já viveu seu momento,
Seu aperto, seu escorregão,
Seu longo voo de alguns instantes,
Fazendo parte de uma vida.

No início as quedas eram duras,
As distâncias percorridas eram maiores
Até se atingirem os objetivos,
Mas a cada etapa vencida
Mais curtos se tornavam.

Não sei quantos grãos ainda restam,
Nem quantos já passaram eu pude contar.

Não vejo um final no tempo,
Que parece se escoar em outro canal,
Num outro momento.

Outros são os grãos também,
E, no entanto, carregam de mim,
Que não termina.

O movimento permanece,
A energia e até o pensamento.

A vida continua mesmo quando acabei de passar,
E, como eu, outros já passaram.

Como uma ampulheta sem fim.



CRIANÇA: SEU RECADO PARA O FUTURO



Por Roberto Antônio Aniche
ORTOPEDIA

Eu pergunto: que recado você quer deixar para o futuro? Claro que um bom recado: uma criança que cresça, estude, seja um cidadão de bem. Acredito que todo pai e toda mãe deseje que seu filho ou sua filha seja melhor do que eles mesmos. Acredito que todo pai e toda mãe que ama seus filhos se preocupe muito quando eles saem de casa, vão para a escola, ou quando estão crescidinhos e vão para a tal da "balada", e muitas vezes não dormem enquanto não voltam.
O primeiro remédio desta receita começa em casa. Se a escola ensina português, matemática, geografia, então os pais devem ensinar a honestidade, a honra, o respeito e a moral para que seus filhos sejam verdadeiros cidadãos e cidadãs. Jogar esta tarefa para os professores é no mínimo temerário, pois se criar um filho já é difícil, quanto mais ter quarenta deles dentro da sala de aula.
O segundo remédio é viver plenamente amando os filhos. Isto significa que ao menos uma refeição no dia deve ser feita em família e sempre com conversas agradáveis. Discussão no jantar leva a indigestão e a noite mal dormida. Mas se só podemos dar a que temos, porque então não dar amor aos filhos? Ou não temos amor para dar? Por que não dar um bom dia com um sorriso, porque não beijar e abraçar os filhos? Afinal, não importa a idade, eles sempre serão nossos filhos!
Além da refeição porque não assistir a um filme juntos? Que filme? Sem violências! Não é interessante assistir programas que mostram prostituição, infidelidade, roubo, sexo, drogas. Lembramos que os iguais atraem iguais e isto é ruim para todos. Porque no estudar junto com eles? Se não quisermos filhos ruins como os filhos dos outros que estão presentes nos noticiários policiais temos que criá-los de maneira saudável e amorosa. Temos que ensiná-los que dizer não às coisas imprestáveis da vida e sim às boas coisas é parte do aprendizado da vida. Ensinar que se meter em encrencas não é ser homem, é ser otário e vergonhoso. Ensinar que dizer não é um ato de coragem!
Respeitar o próximo é ensinar ao menino que não se bate em menina, que não se agride professores, que no se grita com os irmãos ou mesmo com os pais e mães. Ensinar que não se rouba, não se mata, não se maltrata animais, que família é bom e melhor do que os amigos das ruas.
Se você criou um filho sem amor, sem ensinar valores morais, honestidade, compaixão, humildade, então você sabe que criou o monstro que tem dentro de casa e nem quer imaginar a que ele faz nas ruas. Eu termino meu comentário com uma cena grotesca e uma pergunta extremamente dolorosa, mas importante: Imagine seu filho morto. O mundo seria melhor ou pior sem ele?




quinta-feira, 2 de maio de 2019

O BANDEIRANTE nº 318 - MAIO 2019


O BANDEIRANTE - edição 318 - Maio de 2019

Editorial: 

Sobrames: 54 anos

Dia 23 de abril marca o aniversário da fundação da SOBRAMES que desde o início agrega médicos escritores, mas que também acolhe outras categorias profissionais
interessadas em literatura.
Com seus 54 anos, ela é jovem e ainda vislumbra novos horizontes com seus versos e prosas. Mas com a ação implacável do tempo, é natural constatarmos que seus filiados estão envelhecendo. Nestes últimos anos lamentamos as perdas de ícones de algumas regionais, incluindo o recém falecimento do Dr. José Jucovsky, membro benemérito da SOBRAMES SP. O que nos conforta é saber que ele, assim como outros queridos sobramistas, continuam presentes por meio das lembranças e dos textos contidos nos livros individuais, além das Antologias, Coletâneas e Anais representativos das Jornadas e dos Congressos.
Assim, muitas regionais compreendem a importância de resgatar a memória dos seus múltiplos talentos, acompanhada do empenho para incluir novos filiados, promovendo eventos e concursos que auxiliam a divulgar a SOBRAMES.
Em agosto iremos conhecer os vencedores da II Intermed Literária Paulista, concurso que visa estimular a produção literária entre os estudantes de Medicina.
Sim! Faz-se necessário agregar novos filiados, mas sem esquecer que também é fundamental fortalecer as ligações fraternas entre todas as regionais.
E esperamos que as Jornadas programadas para agosto na capital paulista possam contribuir para os objetivos de confraternização, com prosperidade e harmonia.
Viva SOBRAMES !

Márcia Etelli Coelho
Presidente da Sobrames-SP

Leia a edição completa clicando no link a seguir:
O BANDEIRANTE - MAIO 2019
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