Por Helio Begliomini
UROLOGIA
Embora corriqueiro num
aeroporto internacional, o vaivém de pessoas e a pressa modulada pela ansiedade
parecem fazer ignorar singelos pormenores que diuturnamente se sucedem em suas
dependências. Não me refiro ao bailar da decolagem e aterrissagem das aeronaves...
a monotonia dos check-in de
passageiros... aos guturais anúncios das partidas e chegadas dos voos
pronunciados sucessivamente em português, espanhol e inglês... a radioscopia
das bagagens pela polícia federal ou mesmo a espera dos pertences que giram
sobre uma incansável esteira rolante.
Uma simples porta de alumínio
envidraçada, que se abria automaticamente com sensores de aproximação e se
fechava após a saída dos recém-egressos que por ela passava, dava asas a minha
imaginação. Ela era de mão única. Não servia como entrada, apenas para saída.
Por ela atravessavam semblantes alegres, pensativos, preocupados, fatigados,
sérios e descontraídos.
Utilizando roupas sociais,
esportivas ou mesmo exóticas, os esperados desfilavam de permeio a uma plateia
restrita, ansiosa e ao mesmo tempo eufórica, que se aglomerava e se modificava
paulatinamente.
Vez por outra, cartazetes se
elevavam facilitando a identificação de desconhecidos. Tampouco faltavam faixas
amáveis dirigidas a entes queridos acompanhadas de calorosas torcidas.
O tempo parece não passar
quando se anseia reencontrar um familiar, sobretudo se trata-se de um filho que
ousou morar fora do país com uma família desconhecida, a pretexto de obter
maior experiência pessoal e conhecimento de outro vernáculo.
A porta persistia
incansavelmente no seu inexorável ritmo: abrindo e fechando. A plateia
continuava se transformando a medida que de lá de dentro saiam pessoas
esperadas. E a presença de familiares ora atenuava, ora acentuava a tensão
compartilhada na contundente espera.
E a cada movimento automático
uma expectativa. E a cada golfada de passageiros, sonhos eram saciados e
temores desfeitos por outros espectadores. De chofre, entre os vaivém, ei-lo
que surge, tal qual uma miragem no deserto que se materializava a medida que se
ia abraçando-o, beijando-o e apertando-o, trocando assim muito calor entre
nossos corpos. A espera foi tão longa quanto uma eternidade, e a chegada tão
fugaz quanto a satisfação de um prazer.
De costas aos espectadores em
passos firmes de retirada, a porta continuava abrindo e fechando. Com ela
alternava-se a plateia para o mesmo espetáculo e na mesma ribalta. Ressurgiam
expectativas, e novas ansiedades eram desfeitas. Tudo ao sabor hipnótico de um
simples vaivém de uma porta automática.
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