quinta-feira, 9 de maio de 2019

PORTA AUTOMÁTICA



Por Helio Begliomini
UROLOGIA

Embora corriqueiro num aeroporto internacional, o vaivém de pessoas e a pressa modulada pela ansiedade parecem fazer ignorar singelos pormenores que diuturnamente se sucedem em suas dependências. Não me refiro ao bailar da decolagem e aterrissagem das aeronaves... a monotonia dos check-in de passageiros... aos guturais anúncios das partidas e chegadas dos voos pronunciados sucessivamente em português, espanhol e inglês... a radioscopia das bagagens pela polícia federal ou mesmo a espera dos pertences que giram sobre uma incansável esteira rolante.
Uma simples porta de alumínio envidraçada, que se abria automaticamente com sensores de aproximação e se fechava após a saída dos recém-egressos que por ela passava, dava asas a minha imaginação. Ela era de mão única. Não servia como entrada, apenas para saída. Por ela atravessavam semblantes alegres, pensativos, preocupados, fatigados, sérios e descontraídos.
Utilizando roupas sociais, esportivas ou mesmo exóticas, os esperados desfilavam de permeio a uma plateia restrita, ansiosa e ao mesmo tempo eufórica, que se aglomerava e se modificava paulatinamente.
Vez por outra, cartazetes se elevavam facilitando a identificação de desconhecidos. Tampouco faltavam faixas amáveis dirigidas a entes queridos acompanhadas de calorosas torcidas.
O tempo parece não passar quando se anseia reencontrar um familiar, sobretudo se trata-se de um filho que ousou morar fora do país com uma família desconhecida, a pretexto de obter maior experiência pessoal e conhecimento de outro vernáculo.
A porta persistia incansavelmente no seu inexorável ritmo: abrindo e fechando. A plateia continuava se transformando a medida que de lá de dentro saiam pessoas esperadas. E a presença de familiares ora atenuava, ora acentuava a tensão compartilhada na contundente espera.
E a cada movimento automático uma expectativa. E a cada golfada de passageiros, sonhos eram saciados e temores desfeitos por outros espectadores. De chofre, entre os vaivém, ei-lo que surge, tal qual uma miragem no deserto que se materializava a medida que se ia abraçando-o, beijando-o e apertando-o, trocando assim muito calor entre nossos corpos. A espera foi tão longa quanto uma eternidade, e a chegada tão fugaz quanto a satisfação de um prazer.
De costas aos espectadores em passos firmes de retirada, a porta continuava abrindo e fechando. Com ela alternava-se a plateia para o mesmo espetáculo e na mesma ribalta. Ressurgiam expectativas, e novas ansiedades eram desfeitas. Tudo ao sabor hipnótico de um simples vaivém de uma porta automática.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...