Por: Luiz Jorge Ferreira
CLINICA GERAL
Vou fechar janelas.
Para que os ventos noturnos.
Não tragam lembranças de outras terras...nem seus sons.
Não quero o azedo do limão que se descascou em Dublin.
Nem a silhueta da cortina com o desenho do Kilimanjaro.
Quero o calor do Pacoval.
Trazendo suor e sal. Grudando as axilas.
Secando o cuspe da boca.
Enquanto em mim brotam dissonantes notas afônicas.
...E a mim dizem que morreu o silêncio!
Aquele mesmo silêncio que eu pensei
ter colocado entre o desenho pautado de um Fado,
e a encabulada ritmicidade de um Tango.
Desenhos rostos que se parecem tanto com rostos,
que se não se parecem tanto entre si mesmos.
Vou cerrar as janelas
Vou esfregar as pálpebras de encontro as lágrimas,
e amordaça-las com soluços.
Quiçá barulho de vidro quebrando...
deveras estalos de fraturas de ossos ... acontecendo...
Estes sons da noite me acordam...
quando demoro...silenciam...
atiçando a ansiosidade de ouvi-los novamente.
Quando me enamoro da vida...
Mastigo sombras que entram pelo vão,
entre os sons e os silêncios.
Têm gosto de limão.
Exatamente... o mesmo gosto que guardo em mim.
Quando no quintal o galo atônito e rouco...
desperta de súbito.
Firme com a lua presa no bico.
E finge estar surpreso com a Aurora.
Finge estar surpreso, com o que lhe cerca.
Vira-se pelo avesso
O sol lhe colore as entranhas.
Suas lembranças saem aos borbotões,
como borboletas negras.
Diria que em Outubro voltarão libélulas.
Pode ser que em Morse.Cantem a Aurora.
Tragam Canções Americanas do Norte.
As que falam das Águias.
As que incluem corações indígenas,
pintados nas montanhas...
As que grafitando o metrô em Amsterdã...acordem o Sol.
Ou as que simplesmente perduram afônicas em Macapá...
Porque tudo que é longe, é tão próximo.
Tudo que foi Ontem, será agora!
Como meus olhos, e teu olhar longínquo
desenhado na areia da poça d'água estreita, e rasa...
em qualquer rua após uma chuva
das duas em Belém do Pará.
Avesso e não avesso.
Apagado e aceso. Estridente e rouco. Destro e direito.
Docemente... Inutilmente ...
Com as mãos no bolso onde guardo uma lua Minguante.
Assovio melodias apaixonadas por silêncios!
No avesso dos silêncios, não sou sons... sou
ímpar.
***
Menção Honrosa no "Prêmio Bernardo de Oliveira Martins" 2017-2018
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