quinta-feira, 9 de maio de 2019

AMPULHETA SEM FIM



Por Sérgio Gemignani
PSIQUIATRIA

Como uma ampulheta sem fim,
Sinto a vida escoando,
Em cada grão que cai,
Em cada minuto que passa.

Sinto-me como se fosse cada grão
Que passa pelo estreito canal,
Que já viveu seu momento,
Seu aperto, seu escorregão,
Seu longo voo de alguns instantes,
Fazendo parte de uma vida.

No início as quedas eram duras,
As distâncias percorridas eram maiores
Até se atingirem os objetivos,
Mas a cada etapa vencida
Mais curtos se tornavam.

Não sei quantos grãos ainda restam,
Nem quantos já passaram eu pude contar.

Não vejo um final no tempo,
Que parece se escoar em outro canal,
Num outro momento.

Outros são os grãos também,
E, no entanto, carregam de mim,
Que não termina.

O movimento permanece,
A energia e até o pensamento.

A vida continua mesmo quando acabei de passar,
E, como eu, outros já passaram.

Como uma ampulheta sem fim.



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