sexta-feira, 24 de abril de 2020

CHUVAS



Por: Lúcia Edwiges Narbot Ermetice
DERMATOLOGIA


Chuva mansa.
Deslizam suas lágrimas pela vidraça.
As minhas, pela face.

Vento suave.
Lá fora geme suas mágoas.
As minhas, dentro.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

CONGRESSO NACIONAL ADIADO



Tendo em consideração a instável situação sanitária mundial com a vigência da pandemia do Novo Coronaviru, em entendimento com o confrade Dr. Raimundo José Arruda Barros, Presidente do XXVIII CONGRESSO SOBRAMES, programado para setembro, este foi adiado sine die, aguardando o desenrolar da situação para marcação de uma nova data. Apoiamos a decisão em prol da preservação da saúde de todos. 

Arquimedes Viegas Vale
Presidente Nacional da SOBRAMES.


segunda-feira, 20 de abril de 2020

SOMBRAS AO ENTARDECER



Por: Aida Lúcia Pulin Dal Sasso Begliomini
ENGENHARIA

Silenciosamente caminhamos, lado a lado.
Passos lentos e cansados.
Sombras enormes se formam.
Corpos delgados desproporcionais,
brincam e se tocam.
Pernas se entrelaçam,
braços se aproximam e se afastam.
À frente a imensidão branca,
das dunas áridas e perfeitas.
Atrás o sol lança seus últimos raios, 
se pondo lentamente, 
numa explosão de cores 
A leve brisa que vem do mar
se junta ao silencio que envolve o entardecer
Paramos e observamos extasiados,
a perfeição do momento.
Humildes percebemos a nossa insignificância, 
perante a força da natureza.
Nossas sombras se movimentam outra vez.
No rastro que deixamos
ficam as marcas de nossos pés descalços.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

UMA EMOCIONANTE HISTÓRIA SANITÁRIA


Por: Carlos Augusto Ferreira Galvão
PSIQUIATRIA

Ainda que pesassem os dez anos que não ia a Belém do Pará, mesmo ver a admiração estampada no rosto de meus velhos mestres, afinal o antigo pupilo vinha representando São Paulo no primeiro evento da Sobrames paraense, significando assim ter liderado velhos ícones da medicina brasileira, não foram estas as maiores emoções daqueles dias e sim o desfecho da apresentação de meu trabalho de nome “A Cidade Encantada”, na II Jornada Nacional da Sobrames, que aconteceu em 2003.

É fácil escrever sobre Belém, a cidade dos mil encantos. A nostalgia engasgou-me e o fato é que terminei de ler o texto de forma bastante molhada, sendo acompanhado por lágrimas de muitos dos que me ouviam. Um silêncio emocionado de alguns segundos seguiu-se terminando com a pergunta da jovem médica que presidia a sessão literária, menina de vinte e tantos anos, que me atingiu como se fosse um soco emocional: -”Tudo bem Carlos Galvão... Teu texto dispensa comentários, mas tem algo que quero te perguntar desde que soube que virias para nossa jornada; Quem é Silas dos Santos Galvão, e o que ele representa para ti?”

Silas dos Santos Galvão, meu pai, médico formado pela faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia em 1944, especializado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo em 1950, exerceu sua atividade profissional no estado do Pará como sanitarista do ministério da saúde, até falecer aos 55 anos de idade. E agora uma médica, pouco mais que uma garota, seguramente nascida depois de sua morte trinta anos antes, pergunta-me quem era meu pai. Respondi e, emocionado, perguntei o porquê da pergunta.  –”É que sou a responsável pela Esquistosomose mansonica na Secretaria da Saúde, e um dia resolvi pesquisar quem já tinha andado por este caminho, e o pioneiro foi teu pai”, esclareceu e jogou-me a uma espécie de nocaute afetivo com mais uma pergunta: -”E quem era o acadêmico de medicina que o acompanhou em seus últimos trabalhos?”. Deus do céu! Que velhas lembranças...

A Esquistossomose mansonica, doença grave, muito incapacitante e muitas vezes mortal, não é uma doença americana; atravessou o Atlântico nos navios negreiros, vinda da África alojada nos intestinos dos negros e espalhou-se por quase todo o país, pois encontrou ajuda de um caramujo de nome Bionphalaria glabata e de outra entidade tão perniciosa quanto o pequeno molusco: O Estado nacional e seu eterno descaso para com tudo o que diz respeito ao povo brasileiro. Então se tornou endêmica no sul, sudeste, centro oeste, nordeste, mas poupou a Amazônia. Várias teorias tentam explicar o fenômeno, que vão desde a baixa penetração escravagista no norte, passando pelo isolamento da região até ao grande volume hídrico, que dificulta a procura do “Miracídio”, larva gerada no ovo do parasita, pelo hospedeiro intermediário: o caramujo.

Em meados da década de sessenta do século passado, Silas dos Santos Galvão detectou o surgimento de ovos de Shistisoma mansoni em fezes de crianças de Belém do Pará, que nunca tinham saído da cidade. Ele já andava preocupado pois, com a abertura da rodovia “Belém-Brasília”, levas de pessoas de regiões endêmicas chegariam e poderiam trazer a moléstia, o que de fato aconteceu.

Estava eu no primeiro ano de medicina na Universidade Federal do Pará, quando meu pai expôs sua grande preocupação: tinha planos de descrever os primeiros focos da Esquis-tossomose mansônica na cidade, mas esbarrava em poucos recursos para os exames, levan-tamentos sanitários, etc., e perguntou de que forma a velha Escola de Medicina da Univer-sidade Federal do Pará poderia ajudar.

A adesão foi total. A cadeira de Parasi-tologia cedeu seus laboratórios e ensinou-nos a preparação e feitura dos exames de fezes bem como a identificação dos ovos do parasito, e conseguimos fazer um amplo levantamento nas crianças, identificando muitas contaminadas, percentual em torno de quarenta por cento. A cadeira de Doenças Tropicais do quarto ano também se interessou e ajudou bastante nos levantamentos sócio-sanitários. Verificamos que a doença já se alastrava em áreas alagadas da cidade de Belém.

Com tal ajuda, Silas Galvão brilhan-temente descobriu, descreveu e, posteriormente, saneou os primeiros focos de uma doença grave que chegava a Belém do Pará, mostrando que embora não possua o Bionphalaria glabata, Belém do Pará tem o Bionphalaria stramínea que se prestava a eliminar as “Cercárias”, larvas aptas a penetrar na pele dos indivíduos, iniciando assim um novo ciclo da doença e que esta larva, tanto quanto a sua preceptora o “Miracídio”, havia se adaptado à água ligeiramente salobra da costa belenense.

Foi emocionante sentir que Belém do Pará não tinha esquecido Silas dos Santos Galvão depois de três décadas de sua morte. Em seu tempo ele foi um radar sanitário daquela cidade e faz parte da história da medicina de lá. Ser filho dele e fazer parte desta história é o maior orgulho de minha vida.

domingo, 12 de abril de 2020

TELEFONEMA



Por: Delfim Silva Pires
CARDIOLOGIA

O celular tocou; no meu caso, o toque é um western italiano. Atendi 

— Moisé é a Dora, a Dora, Moisé.

Dizia rápido por cima do meu alô, que, decerto, nem ouvia, tão certa estava de estar com Moisés. Sua voz era entusiasta, cheia de vida, vibrante, comia o “s” de Moisés, como se dessa forma encurtada, estivesse mais próxima do Moisés; ao mesmo tempo, pronunciava a Dora com a sílaba Dó bem aberta, fazendo o mesmo com o Zé de Moisé.

Pela entonação e intimidade, parecia-me que a Dora era só de Moisés e ela o adorava. Quando dizia — É a Dora, até parece que eu ouvia a continuidade: a Dora que te adora, a tua Dora; tamanho o encantamento que havia na voz da Dora. Mesmo com todas essas sensações e sentimentos, tive que dar continuidade a ligação.

Alô, aqui é fulano de tal, não tem ninguém com esse nome. Ela baixou o tom e ainda disse:

— Moisé, a Dora, Moisé, em um tom cada vez mais baixo até se tornar um sussurro e desligar.

Eu fiquei com uma vontade imensa de ser o Moisé da Dora. A Dora devia ser uma mulher muito cheia de si, muito segura, que se dava tão simples e completamente ao seu Moisé, como se não houvesse no mundo outras possibi-lidades, que não o seu Moisé.

Há quanto tempo eu não recebia ou ouvia um chamado com tanta ternura, com tanta vibração...

Que vontade que aquela ligação não terminasse nunca, ainda que eu não fosse o Moisé.

Mesmo que nada fosse pra mim, ouvir aquela voz era muito bom, queria reter o encantamento daquela voz, não queria acabar com o que ela despertava em mim.
Minha realidade era infinitamente mais pobre do que meus sentimentos, do que meus sonhos.

Devia voltar para o isolamento do meu plantão no Sábado de Aleluia...

É, deve ser isso, como todos estão comemorando a Páscoa com suas famílias, estar só fica ainda mais solitário.

Que pena, foi um engano. Engano a ligação, mais que isso, engano dos meus sentimentos.
De qualquer forma, obrigado Dora, ainda que sem querer ou saber, despertou  em mim tais sentimentos! Pra você, para o seu Moisé, e para todos que possuem bondade no coração:

Feliz Páscoa!

terça-feira, 7 de abril de 2020

O SENTIDO DA VIDA



Por: Antonio Soares da Fonseca Junior
CLÍNICA GERAL

I - Quem sou Eu?

Se quem está ao meu lado eu ignoro
Se fechei os meus ouvidos ao seu apelo
Se não sei realmente por quem choro
Se antes não ouvi e também não quero vê-lo

Se a minha mão em sua queda não lhe dei
Em sua doença não doei o meu conforto
Se palavras amigas lhe neguei
Se ao seu barco fechei meu pobre porto

Se todas essas dúvidas me consomem,
Fui espectro de homem. Não fui homem.
Não talhado realmente para isto

Não reconheci um irmão no semelhante
Quem trazia em su’alma e no semblante
A verdadeira face do meu Cristo.


II - De onde Vim?

Eu vim ao mundo nascido do Amor
O plano de Deus: Um homem, uma mulher,
A obra da criação do meu Senhor
Que dispõe de ambos assim como bem quer

Um homem, uma mulher, um útero, uma origem
Por mais humildes que sejam, são seus Pais
A mãe do Grande Deus – uma menina virgem
Era pobre, simples, humilde e muito mais

Casou-se apenas com um pobre carpinteiro
Homem de Fé, bom justo e verdadeiro
E mais uma vez o plano de Deus se expande

Apesar de ser o Criador do Mundo
Usou de um paradoxo bem profundo:
Precisou de dois pequenos pra ser grande


III - Para onde Vou?

Após cumprir minha missão terrena
Após cumprida toda minha sina
O fim da minha vida entre em cena
E a morte fatídica este final assina

O corpo segue sempre para a tumba fria
Quando dele a vida plena se esvai
O Espírito que o anima vai com alegria
Para a mansão dos justos, de volta para o Pai

No Eclesiastes, assim como compete
No capítulo doze e seu versículo sete
Está a grande máxima que já aconteceu:

Acabam-se o sonho tolo e a quimera
E o corpo volta à terra como era
E o Espírito volta a Deus que o deu.

sábado, 4 de abril de 2020

O Bandeirante nº 329 - ABRIL de 2020


O BANDEIRANTE - edição 329 - Abril de 2020

Editorial: 

Literacia Familiar

Março de 2020 será lembrado pela pandemia do coronavírus que fragilizou a saúde física, emocional e financeira do mundo inteiro. 
Perdas irreparáveis e notícias contra-ditórias ainda geram dúvidas, medo e reflexão.
Será possível visualizarmos aspectos positivos nesta crise global? Evidente que sim.
Os cuidados básicos de higiene foram enfatizados e o zelo pelos nossos idosos, incrementado. Além disso, entramos em contato com o nosso “eu” e intensificamos o convívio familiar.
Descobrimos novos meios de passar o tempo confinados em casa e, nesse sentido, a Internet e o celular assumem uma conotação ampla, auxiliando a cumprirmos o dis-tanciamento social sem nos isolarmos totalmente.
Resgatamos jogos lúdicos para distrair as crianças, retomamos o prazer de preparar a própria comida e, com certeza, comprovamos o poder da literatura quando nos desligamos, por alguns momentos, da realidade e mergulhamos no mundo mágico dos livros e da contação de histórias.
Para nós, sobramistas, que temos o privilégio de expressar sentimentos por meio da escrita, uma oportunidade de finalizar aquele texto que não havia sido completado por falta de tempo, embora muitos dos nossos filiados continuem trabalhando.
Ontem, eu vi no noticiário moradores de um prédio cantando, cada um na sua sacada, para em seguida aplaudirem os médicos. E aqui eu estendo a gratidão para todos os profissionais que garantem o básico para a sobrevivência.
Hoje, 27 de março, ao escrever este editorial, a tristeza se mescla com a fé na bênção Urbi et Orbi do Papa Francisco diante da praça de São Pedro vazia, mas acompanhada por todos os meios de comunicação, unindo as diversas partes do mundo.
O que acontecerá daqui para frente? Uma incógnita!
O tempo, porém, irá confirmar que somente pela união seremos capazes de preservar o nosso bem mais precioso: a vida.

Márcia Etelli Coelho
Presidente da Sobrames-SP

Leia a edição completa clicando no link a seguir:
O BANDEIRANTE - ABRIL 2020

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