Por: Helmut Adolf Mataré
ANESTESIOLOGIA
(in memoriam)
1917-2016
O sistema carcerário brasileiro é uma academia de
crimes. Os batedores de carteira são profissionais. Existe um brasileiro que
nunca teria ouvido estas opiniões? O mais importante é a instrução oficial:
“Não reaja, se for assaltado, porque o assaltante está sob tensão nervosa. Ele
pode assustar-se e exagerar na violência”.
Esta é a opinião que os delegados da polícia
representam, de acordo com a experiência deles, porque eles anotam as
ocorrências. Eles analisam cada caso com vista aos possíveis desdobramentos e
avaliam os perigos que um assalto conjura.
A grandeza do perigo exprime-se em
porcentagem, de acordo com as regras da estatística. A pergunta é: com que probabilidade acontece o
efeito em apreço, se está presente a condição desencadeante?
Este modelo de pensamento vale na física, na
tecnologia, na astronomia e meteorologia, mas não vale (nesta forma simples) na
psicologia, porque o ser humano é capaz de aprender. Nenhum criminoso faz
somente uma tentativa de seqüestro ou de assalto em sua vida. Quando ele está
na fase da experiência, seu modo de agir e de reagir pode mudar em cada caso.
Não é só a experiência que modifica a reação do criminoso, mas também seu
estado alimentar, sua vigília, bem como as oscilações do caráter,
freqüentemente causadas por substâncias psicotrópicas.
De suma importância para o
assaltante é a previsão que ele se faz sobre a reação da vítima. Quanto mais
pacífica a vítima, tanto maior a tentação de proceder ao assalto. Criminosos
têm orgulho e espírito corporativo. Muitos formam uma organização atuante e
disciplinada. Para os líderes destas corporações não existe maior triunfo que
um regulamento público que proíbe as vítimas de se defenderem. Orgulhosos eles
podem declarar uma Guerra Santa contra a má distribuição da renda, sem perigo
de baixa em suas fileira, matando à vontade.
A advertência dos delegados de polícia que nenhum
cidadão deve defender-se, criou um quarto poder público. Ao lado dos poderes
executivo, judiciário e legislativo, temos agora o poder dos assaltantes.
O famigerado “movimento contra a violência” dá sua
bênção a cada roubo ou seqüestro que decorre sem algazarra, porque poupou-se o
mais precioso que existe, a vida humana. Certamente, a vida humana é um grande
valor, mas não é o único valor. A vida da mãe terra, por exemplo, ultrapassa em
valor uma vida humana. E existe ainda uma moral que conhece muitos outros valores e que coloca o valor da vida de um
criminoso num escalão inferior ao da vida de um cidadão honesto.
A moral obriga-nos a educar-nos mutuamente. A
permissividade, a conivência com crimes são atitudes imorais. Ainda que uma
vida humana esteja em jogo, não se extingue o dever de pugnar contra o crime e
de fazer tudo que é em nosso poder, para desestimular os criminosos ou para
ajudar a puni-los. A sociedade que ignora estas imposições morais transforma-se
em gigantesca academia de crime.
Se
a polícia acha que não convém que os cidadãos dêem lições aos criminosos, ela
deveria armar ciladas em todos os pontos críticos (coisa que é impraticável) e
imediatamente abaixaria o número de assaltos e seqüestros.
Nunca
na história da humanidade existia um povo que prescindia do princípio da
expiação do crime, mas nossa democracia permite aos partidos políticos
propaganda demagógica que coloca a moralidade ao segundo plano, em benefício da
promessa de comodidade e de conforto imediato.
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