sexta-feira, 30 de agosto de 2019

VOLTEI

Por: Maria do Céu Coutinho Louzã
RELAÇÕES PÚBLICAS

De onde? Para onde? Perguntarão.
Havia escolhas. Muitas. Porém
Entre quantas se apresentaram,
Era muito difícil escolher.

Voltei com sérias promessas
De não mais me entristecer.
Olharia com atenção o sol nascer.
Com toda a luz na sua plenitude,
E também o seu poente divino,
Talvez  triste, quando se despede
Ao ver a noite se aproximar! 

Apreciaria melhor as chuvas cantantes
Que inundam de alegria minha alma. 
E todos os jardins agradecidos
Enfeitam-se de flores mais cedo.

Voltei mesmo sem perceber,
Que deixava para trás
Sonhos e desejos, os quais
Se desfizeram como nuvens 
Levadas por ventos ingratos.

Voltei a pensar que te encontraria
Novamente a me esperar todos os dias 
Naquela mesma praça silenciosa, 
Onde os pássaros em revoada
Buscavam no lindo arvoredo,
Abrigo ao anoitecer.

Mas não. Percebi que voltar 
Era somente um sonho. 
E eu triste vi, que só podia
Viver de sonhos irrealizáveis.

domingo, 25 de agosto de 2019

UMA MULHER VESTIDA DE BRANCO

Por: Wladimir do Carmo Porto
ECONOMIA

       Lá estava ela. No meio do salão. O som do triângulo, da zabumba e da sanfona ribombava, saindo das caixas de som.
      Vestida de branco, figura um tanto velha, desgastada pela vida. Entre as pregas da cintura, sobressaía uma barriga acentuada. Rosto impassível, distante, dançava com gestos lentos de mãos e pés. Talvez o peso da idade. O vestido rendado lembrava, vagamente, vestido de noiva. Era uma semi-noiva. Noiva da vida.
       Rodopiava, alheia ao ambiente. Sozi-nha. Era um universo apartado da vida circundante. Fazia com as mãos, gestos graciosos, acompanhando a música. Olhos semi-cerrados. Volteios e mais volteios. Era o centro do mundo. Seu mundo.
      Naquele isolamento e alheamento efême-ro, batia um coração, pulsante de aflições, nostalgia e esperanças. Transparecia plenitude, quietude, em paz consigo mesma.
      E ali estava ela, no meio da multidão, numa noite de São João. Ela e suas circuns-tâncias. Era uma mulher vestida de branco.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

MULHER, SER SUBLIME

Por: Alcione Alcântara Gonçalves
PSIQUIATRIA

A Mulher branca, de origem Europeia,
A Mulher negra, de origem Africana,
A Mulher amarela, de origem Asiática,
Com tez matizada, são Mulheres Glorificadas!

Mulher Asiática, Europeia ou Africana,
Tua força extrapola fronteiras Americanas!
De polo a polo neste Planeta,
Promoves miscigenação com seu gameta!

Mulher! Sol que nos esquenta!
Bendito Colo, que nos acalenta!
Seio Benigno, que nos alimenta!
Útero Protetor, que nos sustenta!

A Mulher é um ser divinal,
Que o SENHOR nos deixou,
Para completar este belo Casal!
Uniu-se ao Homem e a humanidade formou.

Mulher é sensibilidade e Amor!
Só tu podes o Homem gerar, 
Tornando-se MÃE deste SER milenar,
Que na DOR do parto, soubestes sublimar!

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

DOCE, COM AMOR

Por: Delfim Silva Pires
CARDIOLOGIA

       A história que vou contar provavelmente não é novidade e acredito que muitos de vocês já a conheçam.
E não tem importância o fato de ser uma história já conhecida, sua importância, para mim, decorre da maneira como a conheci.
Uma vez, há muito tempo atrás, no tempo em que eu era ainda criança, estávamos todos à mesa: meu pai, minha mãe e os filhos. Éramos seis filhos naquela época.
Minha mãe disse-nos: “Vou contar-lhes uma história”.
Éramos doidos por histórias, vivíamos pedindo que nos contasse histórias, rogávamos pelas suas histórias. Como éramos muitos filhos e todos pediam histórias, muito frequentemente ela nos contava histórias repetidas, então contávamos o final da história rapidamente, e dizíamos: — Tá vendo? Essa história já é velha, história repetida não vale.
Então imaginem vocês nossa curiosidade.
Imaginem. Nós nem havíamos pedido e ela se ofereceu para contar história, essa devia se mesmo das boas e novinha; não devíamos conhecê-la.
Ficamos todos em silêncio, para ouvir sua história. E ela começou assim:
“Havia uma família muito pobre e muito unida.
Certa vez, a mãe dessa família tendo um único pêssego, deu-o a filha caçula e disse:
Coma, só tenho esse, está bem maduro, e vai te fazer bem.
A menina guardou-o e, ao avistar o pai, deu-lhe o pêssego dizendo:
Pai, você deve estar cansado e eu guardei este pêssego para você.
Por sua vez o pai deu o pêssego para o filho, e o filho deu-o à mãe.
Então a mãe reuniu toda a família e disse:
— Hoje à tarde, dei um pêssego à Maria, ela guardou-o e deu ao pai, o pai deu-o ao Antônio, e o Antônio deu a mim. Portanto esse pêssego alimentou a todos, deu-nos muito amor, nós bem o merecemos. Assim sendo, repartiu entre todos”.
Estávamos todos embevecidos com a história e, ao mesmo tempo em que terminava a história, ela tirou uma pequena travessa do fogão, colocou-a sobre a mesa dizendo:
— Ganhei hoje este doce da vizinha, sei que ele é bem pouco para todos nós, mas é o que temos e, se vocês se lembrarem da história, perceberão que dá para todos e ainda há de sobrar para o resto de vossas vidas.
Passados tantos anos, ainda me lembro da travessa de doce, e ele me fez tão bem, que ainda hoje guardo seu gosto. Não podendo repartir o doce com vocês, reparto a história que tanto me emocionou.

sábado, 10 de agosto de 2019

MULHER 60 +

Por: Amália Percelman
CARDIOLOGIA
     
       Hoje comprei um body.
O que vem a ser isso?
Um modelador, um redutor de medidas, um traje para reposicionar certas estruturas, uma peça de roupa para mascarar imper-feições, como um culote indesejado, uma barriguinha teimosa.
  Via de regra é para esconder, poucas vezes para mostrar, raríssimas para expor. Pois comprei um body cheio de transparências e decotes para mostrar que posso agradar, nem que for a mim mesma, que tenho sensualidade, nem que for para o espelho, que me sinto segura, nem que for debaixo da roupa.
Me dei esse presente pois acho que mereço um bem que me faça sentir desejada. Um body, gotas do meu perfume predileto e pronta para ser feliz! 
Que importa se tenho 60 +? Perfeito ninguém é, o que faz a diferença é quem você é, o que pensa a respeito de si mesma, qual sua próxima meta e como vai se posicionar frente às adversidades. 
Com coragem para se mostrar? Por dentro e por fora?  
Vá em frente, se desnude.

domingo, 4 de agosto de 2019

UMA HISTÓRIA NASCIDA EM NOVEMBRO


Por: Alitta Guimarães Costa Reis
PSIQUIATRIA
 
       Ela era baixinha, bem educada. Cabelos grisalhos bem penteados, ondas mantidas com fixador, duas alianças no anular esquerdo, sorriso tímido encimando a gola branca com rendinhas, blusa azul clarinha, saia escura de lã cobrindo os joelhos, sapatos fechados de calcanhar bem estruturado, brinquinhos delicados como seu perfume, unhas cuidadas, sem esmalte. Uma “lady”. Estávamos na mesma repartição, esperando. Levantei-me para tomar café, perguntei se ela queria que eu trouxesse. “Não, minha filha”, disse ela, “gosto muito, mas meu médico me proibiu de tomar café”. Vim com meu café e me sentei, e logo conversávamos como velhas amigas. A conversa fluía tão fácil que fomos ficando entusiasmadas, encantadas com a descoberta de tanta afinidade. Após cerca de vinte e cinco minutos, ela foi chamada, levantou-se, me abraçou, deu-me um beijo no rosto e agradeceu muito, pedindo que Deus me aben-çoasse. Logo fui chamada também e nos perdemos uma da outra: eu gostaria de ter trocado pelo menos um número de telefone...
No outro ano precisei ir à repartição de novo, e o senhor que havia me atendido mais de uma vez pegou o telefone e disse: “Adivinha quem está aqui...” Logo chegou outro senhor, veio direto ao meu encontro e disse: “Eu queria agradecer o que fez pela minha mãe. Ela faleceu há meses, disse que a conheceu aqui e que vocês tiveram uma ótima conversa, uma das melhores que ela teve na vida. De que vocês tanto fala-ram?” Sinceramente, demorei um pouco para me lembrar do acontecido, mas logo me veio à mente a figura da bondosa senhora; da conver-sa não me recordei, para desapontamento do senhor. Ele disse que ela se lembrava de que eu gostava de café. Que queria que ele me entregasse uma coisa, mas ele ficou preocupado, porque era coisa usada e um pouco antiga. E se eu não gostasse? Mas ela insistiu, dizendo que eu era uma pessoa compreensiva e que iria entender direitinho o presente. “Ela me fez ver que a minha vida teve sentido”, ela contou, “foi realmente um encontro de almas irmãs”. Então ele guardou o presente e tentou me achar, mas do meu nome ela não se lembrava. Pela descrição conseguiu me localizar, e ficou esperando que eu voltasse. Disse que o presente não estava ali, se eu podia esperar. Não, não podia. Sugeri que enviasse pelos Correios. “Não é uma boa ideia”, ele disse. Fui chamada nova-mente por um funcionário da repartição, e depois procurei uma toalete. E nos desencontramos. Dois meses depois voltei, era horário de almoço, tinha que esperar e resolvi comer alguma coisa. Fui até a lanchonete mais próxi-ma. De repente eu ouvi: “Não saia daqui!”
Era ele, o mesmo senhor. Disse que voltaria em alguns minutos, o que realmente aconteceu. Tornou a agradecer, e me entregou uma bolsa novinha em folha, com um objeto dentro cheio de plásticos em volta para proteger. Tornou a pedir desculpas pela simplicidade do presente, e disse: “Minha mãe usou isso por vários anos, era especial para ela, presente de pessoa muito querida. Obrigada por deixá-la tão feliz”. Lágri-mas nos olhos, me abraçou e me deu um beijo no rosto, de forma exatamente igual a sua mãe havia feito no primeiro e último encontro que tivemos. E saiu, precipitadamente, como um homem que se recusava a ser visto chorando. Emocionada também, fiz uma breve oração para a mãe dele, enquanto começava a abrir a bolsa e afastar os plásticos. E lá estava o meu presente, que agora é usado orgulhosamente em minha cozinha: uma linda e bem conservada cafeteira.
_____
*Terceiro lugar no concurso de prosas da X Jornada Nacional da SOBRAMES e XV Jornada Médico-Literária Paulista (Agosto 2019 - SP) 

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

O BANDEIRANTE - nº 321 - AGOSTO de 2019

O BANDEIRANTE - edição 321 - Agosto de 2019

Editorial: 

Gratidão

O tema deste editorial não poderia ser outro: gratidão. Ao terminar a Jornada eu sinceramente me senti agradecida.
Agradecida por ter convivido um fim de semana de alto astral no aconchego de versos e prosas. 
Agradecida pelo dom de escrever e constatar que os talentosos amigos sobramistas também se aprimoram cada vez mais na arte literária.
Sessões literárias envolventes. Muitos textos fazendo nossos olhos brilharem. A cada página virada dos Anais, uma janela se abria e esquecíamos as preocupações do dia a dia para mergulharmos no universo que cada texto vinha nos conduzir.
Agradecida pelos inúmeros comentários positivos que recebi e pelo trabalho em equipe da comissão organizadora.  
Agradecida por reconhecer que cada sobramista inscrito também foi determinante para o sucesso da Jornada, criando um ambiente autenticamente fraterno.
Amizades que vencem distâncias. Rostos finalmente conhecidos, o que antes se limitavam às mensagens virtuais.
Harmonia de quem valoriza as afinidades e respeita as diferenças.
A vida é feita de momentos. E com certeza a Jornada registrou muitos momentos memo-ráveis. Voltamos para nossas atividades coti-dianas revigorados pela calorosa confraternização que a Jornada proporcionou.
Por tudo isso, hoje, ao escrever este editorial, meu coração se preenche de gratidão.
E eu me sinto plenamente agradecida.
Hoje e sempre... 

Márcia Etelli Coelho
Presidente da Sobrames-SP

Leia a edição completa clicando no link a seguir:
O BANDEIRANTE - AGOSTO 2019
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