domingo, 25 de agosto de 2019

UMA MULHER VESTIDA DE BRANCO

Por: Wladimir do Carmo Porto
ECONOMIA

       Lá estava ela. No meio do salão. O som do triângulo, da zabumba e da sanfona ribombava, saindo das caixas de som.
      Vestida de branco, figura um tanto velha, desgastada pela vida. Entre as pregas da cintura, sobressaía uma barriga acentuada. Rosto impassível, distante, dançava com gestos lentos de mãos e pés. Talvez o peso da idade. O vestido rendado lembrava, vagamente, vestido de noiva. Era uma semi-noiva. Noiva da vida.
       Rodopiava, alheia ao ambiente. Sozi-nha. Era um universo apartado da vida circundante. Fazia com as mãos, gestos graciosos, acompanhando a música. Olhos semi-cerrados. Volteios e mais volteios. Era o centro do mundo. Seu mundo.
      Naquele isolamento e alheamento efême-ro, batia um coração, pulsante de aflições, nostalgia e esperanças. Transparecia plenitude, quietude, em paz consigo mesma.
      E ali estava ela, no meio da multidão, numa noite de São João. Ela e suas circuns-tâncias. Era uma mulher vestida de branco.

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