terça-feira, 28 de janeiro de 2020

ALVORECER!

Por: José Rodrigues Louzã
GINECOLOGIA
(in memoriam)
1929 - 2015

Clareia nosso dia muito lentamente...
Pássaros pouco a pouco a se agitar...
Ouvimos o sabiá alegre a trinar,
E o canário a dobrar insistentemente.

Os bem-te-vis a acusar, soberanos.
Maritacas em bando a assobiar.
Todos eles começando a voar
Nas árvores, jubilosos e urbanos.

Música de aves logo ao alvorecer,
Mesmo nas cidades em que vivemos,
Com tão pouco verde na natureza,

Ainda conseguem nos oferecer
E com elas, felizes convivemos,
Ao saudar o amanhecer  com beleza!

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

A MAÇÃ E O PARAÍSO

             
Por: Josyanne Rita de Arruda Franco
PEDIATRIA
             
                          Um convite ao pecado                             
Ofereceu-se em maçã.
Fruto que foi recusado, 
Sem intenção de descaso,
Apenas oferta vã.    

Vestidos no paraíso...
Almas desnudas, acesas!
Na pele o sol a pino...
Nos olhos rios salinos...
No peito, nuvem de estrelas.

Em silêncio repousando,
Antes que fosse tarde
A fresca maçã do desejo
Aguardava ensalivar-se
Em bocas pedindo beijos.

Eva enganava a verdade
Disfarçando, com beleza, 
Os tristes olhos da vontade
De Adão, que arfava saudade,
Ancorado em outra presa.

Libido, ternura, deleite!
Adornando o ventre livre,
Um conflito: recusa ou aceite?
Eva disse: aproveite,
                                    Impulso tem o que vive...                                  

 Eva perdeu-se de Adão
 Que vive no paraíso
 Entre flores, fruta e pão,
 Cercado de solidão...
 Sem o viço das sandices.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A IMPORTÂNCIA DAS ACADEMIAS DE LETRAS NA TRANSFORMAÇÃO DO SER HUMANO

Por: Helio Begliomini
UROLOGIA

“Quem não vive para servir não serve para viver”. (Máxima popular.)

As academias sobrevivem desde tempos imemoriais. São mais que bimilenares. Tem-se que a primeira delas originou-se com Platão (427-348 a.C.), no ano de 327 a.C. Ele se reunia com seus discípulos para discussões filosóficas – origem de sua renomada Escola –, no mesmo local em que teria morrido o herói Akademus, galardoado pelos deuses com a intocabilidade de seus domínios e em cujo sítio fora construído um templo à deusa da sabedoria e da inteligência, Atena.
 Por inspiração e por atavismo, seus seguidores cultivavam os valores da in-teligência, da sabedoria e da beleza e permeavam seu relacionamento com as virtudes da fraternidade, solidariedade e lealdade.
Embora muito distante da hodierna era da informática, o aparecimento da academia mescla o mundo real com o etéreo ditado pela substanciosa e fértil mitologia grega.
A academia de então nada mais era do que o embrião das universidades que viriam a se formar na Europa medieval dos séculos XII e XIII, particularmente na Itália e na França.
O grupo aglutinado ao redor de Platão e, ao longo dos séculos subsequentes no seio de outras instituições congêneres, tinha como denominador comum o anseio pelo conhe-cimento, pelo entendimento ou ciência e, por conseguinte, pela verdade. Esses mesmos ideais e anelos distinguiam seus membros dos cidadãos comuns, irmanando-os naturalmente em confrarias, ainda que não se jactassem com esse nome.
É próprio do ser humano viver em sociedade e defender seus territórios, mesmo que sejam de ordem cultural. Assim, com os membros das academias surgia naturalmente a necessidade de se proteger e de se querer bem. 
As academias, que desde priscas eras começavam a arregimentar entre seus membros, cada vez mais, um grupo seleto de participantes – uma massa pensante crítica e influente, nem sempre condizente e, por vezes, contrapondo-se com os interesses dos governantes –, não resistiram ao poder e a interferência do mando político, sendo, a tradicional Academia de Atenas supressa, em 529 d.C., pelo imperador romano Justiniano I (483-565).
Observa-se que as academias surgiram da necessidade inata que plasma o ser humano de se aprofundar no conhecimento, através do exercício da razão, para, em seguida, interagir e interferir com a vida em sociedade.
De nada vale segregar o conhecimento adquirido ou a verdade encontrada (deduzida), por vezes a duras penas, dos demais membros da sociedade, alijando-os das benesses deles advindos, ainda que eles não estejam preparados para compreendê-los ou utilizá-los.
As academias ressurgiram com plena força na transição entre a Baixa Idade Média e a Idade Moderna, particularmente nos séculos XV e XVI, com o Renascimento, e tiveram na Academia Francesa, fundada, em 1635, pelo cardeal Richelieu (1585-1642), seu paradigma, o qual as têm norteado até os tempos atuais.
Dentre as prerrogativas que caracterizam as academias dos tempos modernos está o número restrito de participantes – limitados tradicionalmente em quarenta – e, a vita-liciedade, ou seja, a eleição de um novel acadêmico só pode ocorrer com a morte de um titular.
Assim, ao longo do tempo, os pertencentes às academias foram alcunhados de imortais. E a “imortalidade” lhes deve ser familiar, não no que tange a materialidade e a efemeridade de seus corpos, mas sim, ao alcance e a importância de suas obras e feitos.
Felizmente, hoje em dia, há um grande número de pessoas que poderia pertencer às academias. Pelo graduado contingente disponível, sobremodo em grandes cidades, e pelo tradicional afunilamento no ingresso em tais sodalícios, não seria nenhum atrevimento dizer que há, até, proporcionalmente, maior número de talentos fora do que dentro dessas entidades.
É natural que tais prerrogativas limitam muito os eleitos e que critérios nem sempre técnicos, mas subjetivos, políticos, de amizade e de benemerência, dentre outros possam prevalecer, por vezes, na escolha de um candidato.
Verdade também é que nem todos os elegíveis têm o espírito acadêmico de viver e de compartilhar seus feitos em grupo, em coletividade. Embora a excentricidade e a vaidade sufoquem ou arrefeçam os predicados de alguns acadêmicos, para outros, apesar de seus méritos, tornam-se fatores impeditivos de pertença a tais silogeus.
Isto posto, merece reflexão serena, ao mesmo tempo em que profunda, por parte das academias – lato sensu –, de seus dirigentes e de seus membros, uma vez que tais instituições não devem ser tidas como fossilizadas, démodé, inertes e marginais. Ao contrário, precisam disponibilizar sua cultura, seu conhecimento, seus virtuoses ao bem comum social, interagindo e melhorando seu entorno, tão amplo quanto possível, tal qual a propagação de ondas numa superfície líquida.
As academias de letras pelo seu próprio mister devem interagir com suas comunidades, escolas, faculdades, universidades, bibliotecas e instituições congêneres, oferecendo programas de palestras, conferências, cursos, tertúlias e instituindo concursos literários, a fim de promover o cultivo do vernáculo, a divulgação da cultura e o fomento pelo saber.
No contexto hodierno há dois fatores que se lhe antepõem nesse desiderato: um intrínseco e outro extrínseco. O primeiro deles deve-se aos parcos recursos que perpassa a quase totalidade das entidades culturais neste país, contribuindo para abortar projetos sequer concebidos, gestados ou paridos. A esse fator acrescenta-se o desgaste que a todos acomete pela azáfama da vida moderna, tornando quaisquer que sejam as ações diletantes, portanto, não-remuneradas, como secundárias ou não-prioritárias. E vários acadêmicos não têm ficado imunes a mais este percalço dos tempos atuais.
Na esteira desse pano de fundo deve-se citar que, como fator extrínseco, vive-se numa sociedade marcada pelo utilitarismo, prag-matismo, materialismo e hedonismo que, por sua vez, desconsidera ou ignora os valores do espírito e da cultura. Paradoxalmente, a mentalidade reinante do self-service e do descartável contrapõe-se ao interesse pelo estudo, pelo aprofundamento, desvalorizando o sacrifício, o sentimento e o altruísmo.
É neste contexto, minado por forças antagônicas internas e externas, que as atuais academias de letras – verdadeiros oásis culturais –, regra-geral, se encontram. Curiosamente, é também nele em que elas devem encontrar o substrato de seu plano de ação, ou seja, mostrar o porquê de suas existências, transformando realidades e humanizando ambientes.
Nada mais oportuno do que lembrar o lema da Academia das Ciências de Lisboa fundada, em 1779: “Nisi utile est quod facimus, stulta est gloria”, traduzido por “Se não for útil o que fizermos, a glória será vã”.
A fim de que o ideal do conhecimento, ciência, sabedoria, beleza e verdade mate-rializado na vetusta Academia de Platão, mas inerente a todo homem, não esmoreça, os hodiernos acadêmicos e seus sodalícios de letras deverão labutar contracorrente e em desvan-tagem, haurindo energias e vitalidade de seus precursores, a fim de suavizar a fantástica saga humana.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

MEIA NOITE MÁGICA

Por: José Hugo de Lins Pessoa
PEDIATRIA

Carlos abriu a porta do apartamento, 21:00 horas, um grande silêncio. Desde que separou da Patrícia, voltar para a casa vazia é o pior momento do dia. Colocou uma dose de uísque no copo, sentou-se no sofá de três lugares, tirou a gravata e bebeu lentamente toda a bebida. Hoje o trabalho no escritório tinha sido diferente, dia do seu aniversário, recebeu parabéns dos colegas e surpreso ouviu o chefe dizer: depois do almoço tire a tarde de folga, presente de aniversário. E pensou: trinta e sete anos, já estou próximo dos quarenta. Colocou outra dose, olhou o apartamento e sentiu uma enorme tristeza, pensamentos pesados, a mente nublada. Lembrou um verso do grande poeta Paulo Bomfim: “Minha cidade amanheceu coberta de nuvens. Empino um pensamento colorido e...”, não conseguiu terminar, ficou emocionado. O poeta procurava “notícias do sol”, ele precisava de notícias da Patrícia.
Colocou outra dose no copo, tirou os sapatos e escolheu uma posição mais cômoda no sofá. Sofá que ele dividia com a Patrícia todas as noites quando chegava do trabalho, antes do jantar. Alguns dias pulavam o jantar, até a hora do café da manhã. Imerso em recordações, ouviu nitidamente a voz da Patrícia dizer as três palavras que homem nenhum esquece. Não eram simplesmente palavras, palavras todas as pessoas podem dizer. A Patrícia falava com sentimento. Para ela as palavras, todas as palavras, eram carregadas de verdade e de emoção. Com esses pensamentos ouviu o telefone tocar e ficou com esperança de que fosse ela com cumprimentos do seu aniversário, tinha esperado o dia todo por isso.  Pegou o telefone e disse alô, ouviu a voz do seu amigo Flávio dizendo: parabéns. Conversaram 3 minutos, Flávio perguntou: onde passou à tarde, liguei no escritório me disseram que você não voltaria hoje, a Sandra preparou um jantar para comemorar seu aniversário. Agradeceu muito, esse era um casal amigo, grande amigo, há mais de 10 anos. Nos últimos três meses, desde a sua separação da Patrícia, eles sempre o convidavam para jantar na casa deles. A conversa acabou com a promessa de marcarem um almoço.
Levantou-se, foi tomar um banho para ver se conseguiria dormir. Deitou-se no meio da cama, rolou de um lado para outro e não conseguiu conciliar o sono. Voltou a tomar outra dose de uísque, e olhou o relógio. Eram 23:15 horas. Pensou no trabalho que começava às 8:00 horas e adormeceu. De repente, ouviu a campainha da porta tocar.  Meia-noite.  Abriu a porta. Patrícia, exuberante, em um vestido azul, entra no apartamento e, citando Paulo Bomfim, diz: “À meia-noite, os ponteiros se amam”. 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O BANDEIRANTE nº 326 - JANEIRO de 2020

O BANDEIRANTE - edição 326 - Janeiro de 2020

Editorial: 

Ano novo: o que muda?

Que mágica é essa que, ao badalar da meia noite, começando um novo ano, consegue fortalecer até a mais tênue esperança?
O calendário define, o relógio confirma, os astros se alinham e nós acreditamos que um ciclo se finda para imediatamente iniciar outro, trazendo grandes expectativas.
Acontece que a vida flui tal qual um rio... E como afirmou Fernando Pessoa em seu poema “Ano Novo”: “Nada começa. Tudo continua”.
Ferreira Gullar, por sua vez, considerava que o Ano Novo “Não começa nem no céu nem no chão do planeta: Começa no coração.”
Ambos consideravam que a mágica da virada não existe, mesmo porque se continuarmos com hábitos velhos, tudo permanecerá inal-terado.
A vida só muda se nós a fizermos mudar. 
Um dos destaques evolutivos do ser humano é justamente essa capacidade de promover mudanças. E isso acontece porque ele sonha. Mas apenas sonhar não basta. Cabe a cada um de nós investir e batalhar pelo que acreditamos.
Embora clichê, nesse janeiro de 2020 ainda estão brancas as páginas do livro das novas histórias que iremos escrever. Histórias do cotidiano de nossas vidas, proporcionando experiências, aprendizado e gratidão.
E para ganhar, de fato, um Ano Novo, sempre é válida a mensagem de Carlos Drummond de Andrade:
“Tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”

Márcia Etelli Coelho
Presidente da Sobrames-SP

Leia a edição completa clicando no link a seguir:
O BANDEIRANTE - JANEIRO 2020
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