terça-feira, 7 de janeiro de 2020

MEIA NOITE MÁGICA

Por: José Hugo de Lins Pessoa
PEDIATRIA

Carlos abriu a porta do apartamento, 21:00 horas, um grande silêncio. Desde que separou da Patrícia, voltar para a casa vazia é o pior momento do dia. Colocou uma dose de uísque no copo, sentou-se no sofá de três lugares, tirou a gravata e bebeu lentamente toda a bebida. Hoje o trabalho no escritório tinha sido diferente, dia do seu aniversário, recebeu parabéns dos colegas e surpreso ouviu o chefe dizer: depois do almoço tire a tarde de folga, presente de aniversário. E pensou: trinta e sete anos, já estou próximo dos quarenta. Colocou outra dose, olhou o apartamento e sentiu uma enorme tristeza, pensamentos pesados, a mente nublada. Lembrou um verso do grande poeta Paulo Bomfim: “Minha cidade amanheceu coberta de nuvens. Empino um pensamento colorido e...”, não conseguiu terminar, ficou emocionado. O poeta procurava “notícias do sol”, ele precisava de notícias da Patrícia.
Colocou outra dose no copo, tirou os sapatos e escolheu uma posição mais cômoda no sofá. Sofá que ele dividia com a Patrícia todas as noites quando chegava do trabalho, antes do jantar. Alguns dias pulavam o jantar, até a hora do café da manhã. Imerso em recordações, ouviu nitidamente a voz da Patrícia dizer as três palavras que homem nenhum esquece. Não eram simplesmente palavras, palavras todas as pessoas podem dizer. A Patrícia falava com sentimento. Para ela as palavras, todas as palavras, eram carregadas de verdade e de emoção. Com esses pensamentos ouviu o telefone tocar e ficou com esperança de que fosse ela com cumprimentos do seu aniversário, tinha esperado o dia todo por isso.  Pegou o telefone e disse alô, ouviu a voz do seu amigo Flávio dizendo: parabéns. Conversaram 3 minutos, Flávio perguntou: onde passou à tarde, liguei no escritório me disseram que você não voltaria hoje, a Sandra preparou um jantar para comemorar seu aniversário. Agradeceu muito, esse era um casal amigo, grande amigo, há mais de 10 anos. Nos últimos três meses, desde a sua separação da Patrícia, eles sempre o convidavam para jantar na casa deles. A conversa acabou com a promessa de marcarem um almoço.
Levantou-se, foi tomar um banho para ver se conseguiria dormir. Deitou-se no meio da cama, rolou de um lado para outro e não conseguiu conciliar o sono. Voltou a tomar outra dose de uísque, e olhou o relógio. Eram 23:15 horas. Pensou no trabalho que começava às 8:00 horas e adormeceu. De repente, ouviu a campainha da porta tocar.  Meia-noite.  Abriu a porta. Patrícia, exuberante, em um vestido azul, entra no apartamento e, citando Paulo Bomfim, diz: “À meia-noite, os ponteiros se amam”. 

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