quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O PINCEL DE BARBA



Por: Manlio Mario Marco Napoli
ORTOPEDIA

No fundo do corredor do 3° andar, ala B, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia, havia a sala 323, dormitório dos plantonistas do Pronto Socorro, onde também funcionava, desde meados dos anos 50, o chamado Grupo de Banho.
Era ali que nós Assistentes do Instituto nos reuníamos diariamente, após a faina nos ambulatórios, salas de gesso e centro cirúrgico, atividades que nos ocupavam toda amanhã.
Nessa sala se discutiam os grandes problemas do Instituto, mesmo os que já haviam sido submetidos as altas esferas administrativas e técnico-científicas. Também os trabalhos e casos discutidos nas reuniões semanais eram dissecados, criticados, aprovados ou não. Qualquer trabalho ou apresentação que não fosse aprovada pelo Grupo, certamente não seria aceita pela comunidade ortopédica.
Do grupo participavam muitos Assistentes e o seu Chefe, querido e ao mesmo temido, porém respeitado, era o saudoso Dr. Batalha.
Entre os assíduos frequentadores havia um ilustre descendente de lusitanos, como o Batalha.
O Chefe era sempre o primeiro a chegar e o último a sair, geralmente lá pelas treze ou quatorze horas, mesmo assim, sob a insistência e impaciência dos demais.
Certo dia, o Batalha fazia a barba e atrás, "filando" o espelho se encontrava o outro ilustre lusitano.
De repente, o Batalha percebe que seu companheiro trazia o pincel de barba não lavado e, em alguns pontos de sua extremidade, havia restos de espuma de sabão.
Simplesmente com poucas gotas de água, a espuma reapareceu e o rosto foi recoberto rapidamente.
Surpreso, Batalha abriu o diálogo, que na verdade foi um monologo- "Então, seu Lage, você há tantos anos convivendo conosco, jamais fez referência ao seu método de economizar sabão de barba. Bonito, hem? Isso é que se pode chamar traição! ".
Entre risos e admoestações, sem nada dizer e sorrindo levemente, Lage terminou de fazer a barba. Como era seu hábito, rapidamente saiu.
Batalha, entre os comentários dos demais, jurou que jamais lavaria seu pincel de barba a partir de então.
Devo confessar que também eu, há mais de trinta anos, tenho deixado a espuma secar em meu pincel de barba!

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