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Sozinho no banco da praça, debaixo da luz amarela de um poste antigo, o homem pensa em como se deixou iludir, como perdeu seus momentos de lucidez que o levariam ao paraíso etéreo que almejara desde menino. Gostaria de falar, mas não havia quem o ouvisse, não havia pessoas ao seu lado, nem na praça nem em qualquer outro lugar.
Envolvido pela névoa
ele descobriu que não tinha mais palavras, as perdera todas no caminho de
tantos anos até chegar àquele banco da praça. Ninguém o notava, tornara-se
invisível como a avó de um texto lido no passado. Deixara-se tornar invisível,
a solidão o tornou invisível num ataque de surpresa na linha do tempo de sua
vida.
Era noite, como
convém à solidão para entrar no coração das pessoas, envolvê-las em seus
próprios pensamentos escuros tornando-as cada vez mais, seres únicos num mundo
coletivo, tão únicos que não mais se enxergam.
Olhou para a luz
amarela do poste e uma garoa fina começou a cair tornando a atmosfera mais
fria, mais úmida, mais triste. Ninguém havia notado a sua ausência que já se
tornara um tempo quase que eterno, ninguém havia notado a falta de sua voz contando
estórias, pouco ou nada se lembravam de seu sorriso.
E quando ele
buscava alguém na lembrança a tristeza o envolvia mais ainda, ele havia se
tornado anônimo em sua própria casa, um paria do tempo perdido. Levantou-se e
começou a caminhar, passos lentos, em direção a qualquer lugar. Lembrou-se de uma
frase que dizia que a quem não tem um destino, qualquer caminho serve.
Talvez aquela rua
jamais sentiria seus passos novamente, a lua encoberta não se lembraria mais de
tê-lo visto, seus livros não seriam mais folheados buscando uma frase sequer.
Lentamente,
encurvado e com os ombros caídos foi caminhando em direção a lugar nenhum, ou
ao fim de todos os seus caminhos. Não havia mais nada a fazer, nada mais a
dizer, nada mais a pensar. O coração se contraiu amargurado enquanto a tristeza
tomava conta dos seus pensamentos.
Era um
desconhecido numa fotografia velha e amassada. Nenhum recado, nenhuma saudade.
Não restava mais nada a fazer, a não ser andar. Esgotara a sua cota de
sacrifícios, esgotara todas as suas tentativas de se encontrar e encontrar tantas
outras pessoas, não havia mais ambição, iniciativa ou sonhos. Ninguém perde o
que não tem e ele tinha a certeza de que, depois de perder tudo ele atingira o
estado do nada, apenas isso, um nada no meio da multidão. Lembrou-se do tempo
de menino e um soluço doloroso emergiu de seu âmago. Parou, voltou-se e olhou
na direção de onde viera.
E não viu nada,
porque não havia mais nada. Mais nada…
ROBERTO ANTÔNIO ANICHE
Segunda Menção Honrosa - Prêmio Flerts Nebó 2020
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