sexta-feira, 29 de novembro de 2019

PRIMAVERA

Por: Mércia Lúcia de Melo Neves Chade
MEDICINA DO TRABALHO

Em setembro
Começa a primavera
Não tenho só
Uma primavera

Tenho muitas primas
Chamadas Vera
E também
Uma tia e muitas amigas Vera

Que não são
Primas
Umas nem se conheceram
Nem se verão

Eu também tenho
Muitas primaveras
Já passei pelo verão
Outono

Nos anos
Estou mais
Para Outono e Inverno
Que inferno!

Agora decidi manter
Meu parecer
Sempre na primavera
Viver

Com as primas
As amigas e todas as Veras
Até um dia 
Quando morrer e desaparecer sem elas

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

1666

 Por: Walter Whitton Harris
ORTOPEDIA

Há mais de três séculos, uma cidade foi assolada por 
uma catástrofe sem precedentes, que culminou em uma bênção para a Nação...

Fatídica noite de setembro
Mil seiscentos e sessenta e seis,
Do negrume surgem as primeiras labaredas,
em pontos diversos da metrópole de reis.

Londres fedorenta e malcheirosa,
Casas de madeira de sacadas estreitas
Imundície absurda por toda parte,
Infestação de ratos, as ruelas mal feitas.

Avançam pela cidade as chamas
Lambendo, lambiscando, ruindo
Tornando-se grande a conflagração
Tudo pelo seu caminho, destruindo.

Presença funesta nas casas e porões
Londres é partidária do mal,
Transmissores da peste negra
Doença de grande sacrifício mortal.

Calor intenso, poucas vítimas fatais,
Quatro, de fato, em duzentos mil.
Incontáveis ratos mortos no fogo
E afogados no Tâmisa; é a morte do vil!

Igrejas, prédios do governo,
Treze mil casas tombadas,
Inclusive a Catedral de São Paulo,
E renasce nova Londres daquelas queimadas.

Na reconstrução de Londres, levou-se em conta o que fora a cidade anteriormente
 e  procurou-se aprimorá-la.  Esta é a Londres que se conhece hoje...

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

IMIGRANTE

Por: José Francisco Ferraz Luz
DIREITO

Falar do imigrante é voltar a História Sagrada,
nos idos tempos do Êxodo do povo hebreu,
em direção a Terra Prometida aos pais de nossos pais.

O povo do século XXI está a caminho da felicidade,
prometida no Paraíso na criação do mundo em Gêneses.
Porém os poderosos abatem os humildes estrangeiros.

Os refugiados de sua pátria são perseguidos politicamente,
quando não, carente de suas primeiras necessidades humanas.
Carentes de apoio social, de tratamento médico-hospitalar.

As nações prezam mais os animais domésticos ante o ser humano.
O governo subsidia os bens de consumo, em detrimento do alimento.
Os impostos penalizam os assalariados em benefício do capitalista.

O comunismo sobrevive até que o capital privado desvanece.
Os imigrantes fogem do comunismo como o diabo da cruz!
Pois eles sabem que viver todos por um é sustentar um por todos.

O povo carece de dignidade, princípio da sobrevivência social,
e pela dignidade percorrem terras e mares a procura do ideal.
Acolhimento da pessoa e da família são princípios basilares do Direito.

Quem ama o próximo, ama a Pátria, a família, enfim, ama a Deus.
Princípio basilar da convivência: “amar o próximo como a si mesmo”.
Dar de si é acolher o próximo como sua semelhante criatura do Criador.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

MINHA PRIMEIRA VISÃO DE MUNDO

Por: Juarez Moraes de Avelar
CIRURGIA PLÁSTICA

Quando nasci, a humanidade já sofria há três anos as terríveis atrocidades da II Guerra Mundial, período dos mais sangrentos de sua história. Naquela época, os meios de comunicação eram rudimentares, precários e lentos. Quando a notícia de um episódio sangrento chegava até o povo, outros de maior gravidade já haviam acontecido. Com efeito, as informações de que se dispunha nunca refletiam a situação do momento.
Contudo, a notícia do fim da Guerra, em agosto de 1945, com a assinatura da rendição japonesa aos americanos, foi recebida por todos com alívio. Portanto, três anos após minha chegada ao mundo, o anúncio do fim das hostilidades bélicas repercutiu rapida-mente em todos os cantos do país.
Quando me esforço para acessar informações sobre minha vida precoce, deparo-me com alguns episódios marcantes. A II Guerra Mundial é um deles com as páginas de tristeza e sofrimento. Entretanto, o primeiro registro armazenado em minha memória é a maravilhosa imagem de minha mãe grávida, com o meu irmão caçula, Jozimar, em seu volumoso ventre, quando eu ainda tinha três anos de idade. Minha saudosa mãe era dotada de boa estatura física, pele clara, olhos castanhos, cabelos não muito longos, que alcançavam os ombros; trajava vestes alvas, longas, abaixo dos joelhos, em que sobressaía o abdome proeminente. Em minha visão infantil, ela apenas parecia mais “gorda” que as demais pessoas. Contudo, certo dia, para surpresa minha e de meus irmãos, ela entrou em casa sem a aparência opulenta. Nos braços, trazia um bebê envolvido em uma coberta branca com detalhes azuis. Poucos dias antes daquele memorável episódio, eu havia completado quatro anos, e me lembro de nossa alegria com o nascimento do quinto filho de meus pais. Assim, em nossa família, éramos sete: papai, mamãe e nós, cinco irmãos.
Ainda cedo foi embalada por sonhos de futuro. Cada um de nós sempre demonstrou desejo de estudar e concluir cursos uni-versitários. Para meus pais, tais desejos ensejavam elucidativas conversas sobre atividades como Engenharia, Medicina, Direito, Pedagogia, Economia, Veterinária e Agronomia, que eram as profissões disponíveis aos jovens interessados na universidade. Essas profissões eram temas de debate, e nós, crianças, anunciávamos que escolheríamos esta ou aquela faculdade. No meu caso, ainda precocemente, cada vez mais se acentuava o desejo de tornar-me médico.
Enquanto meus irmãos mais velhos frequentavam o grupo escolar, eu, em razão da pouca idade, ficava em casa em companhia de mamãe, no desempenho das obrigações domésticas. Assim, desde minha infância já me identifiquei com o trabalho, razão pela qual sempre envidei esforços para realizar as tarefas com dedicação e empenho. Essa convivência com mamãe despertou em mim a curiosidade pela fita métrica, instrumento valioso para o trabalho exercido por meus pais. Inicialmente aprendi a ler os números da fita; em seguida, memorizei sua sequência, e depois aprendi a dobrá-la para obter a soma de suas metades e entender o significado da multiplicação. O mesmo ocorreu com as operações de divisão e subtração. Coisas elementares, mas para um garoto de cinco anos, fora do ambiente escolar, tais descobertas eram semelhantes à mágica. Minha curiosidade e o desejo de ajudar mamãe levaram-me a tentar algumas anotações, sendo alfabetizado por ela. Que alegria rememorar aqueles momentos de aprendizado, de descobertas tão importantes em minha vida!
Meu vínculo formal com a escola começou aos oito anos de idade e, graças às aulas de minha mãe, pude ingressar no segundo ano do curso primário (hoje chamado Ensino Fundamental). Com alegria, em companhia de Jomázio e Maria Helena, que carinhosamente chamava de Ena, apelido que se mantém até hoje, punha-me a caminho do grupo escolar. Durante o curto trajeto invadia-me um turbilhão de sentimentos, uma incrível sensação de felicidade, ao constatar que frequentar a escola era o passaporte que me levaria, um dia, a cursar uma Faculdade de Medicina, desde que me empenhasse para isso.
Como foi bom ser embalado por sonhos! O caloroso ambiente familiar era orquestrado por meus pais, que não mediam esforços para alimentar nossos sonhos infantis. Eles nos fizeram entender que para alcançar nossos projetos de vida era necessária dedicação aos estudos. Assim, fomos orientados a encontrar nas salas de aula e nos livros as respostas para nossas inquietudes na busca de conhecimento. No meu caso em especial, percebi que estudar com afinco era etapa indispensável para realizar o sonho de ser médico. Felizmente, após mais de seis décadas, posso constatar que meus objetivos foram alcançados. Melhor ainda é vivenciar a concretização de sonhos trans-formados em realidade pelo meu trabalho, um veículo para levar uma mensagem de fé a meus semelhantes que necessitam de meus conhe-cimentos, habilidade manual e arte para realizar a transformação física e psicológica de que necessitam.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

VIDAS EM JOGO

Por: Aldo Cesar Ribeiro Carpinetti
MEDICINA DO TRABALHO

Ele teve um pressentimento de que aquele plantão seria agitado; o suor já abria caminhos em seu tórax.
— Boa noite doutor, tudo bem? O movimento está bombando. Já tem duas crianças febris para o senhor avaliar, a mãe acha que a filha está com meningite. São todas dramáticas,
— Pode deixar, vou vê-las. Pede para a Dona Terezinha trazer uma caneca de café forte, para não perder o costume.
 — Eu peço. Ah, seu colega da emergência pediu para avisá-lo que vai atrasar, para o senhor segurar a barra até a chegada. Trânsito ruim de novo.
— É sempre assim. Bem, vamos ver. Com este calor o povo sai para tomar uns drinques e fazem besteira na rua, com carro ou moto.
— Verdade, daqui a pouco aparece os bebuns, isto se não aparecerem os acidentados.
— Vira esta boca para lá, Claudinha.
Ele entra na ala das crianças.
— Boa noite senhora. O que houve com esta lindinha, toda pálida?
— Ah doutor, o dia todo vomitando, só deu febre uma vez, já olhei na internet e vi que pode ser muita coisa.
— Verdade, mas vamos com calma, vou examiná-la e pedir alguns exames.
— E o garoto aqui, de uniforme de Batman? Já vi que está febril também.
— Tá sim doutor, febre desde ontem, não come nada.
Aparece na sala Claudinha.
— Doutor, estão te chamando na emer-gência de adultos. Um professor aposentado, 92 anos, parece bala perdida, está sangrando e um rapaz de 22 anos, trazido pela polícia, troca de tiros, dizem que tentou violentar uma criança.
— Vamos ver quem está mais grave.
— Os dois estão, não vai dar tempo de atender, tem que escolher um deles.
— O critério vai ser o de sempre, aquele que tem mais tempo de vida e sobrevivência.
— O senhor é quem sabe. Salvar aquele traste de indivíduo, sabendo que mais tarde, vai aprontar de novo?
— Claudinha, nossos plantões na periferia tem sido assim e eu não posso mudar esta realidade.
— Eu sei doutor, a mesma história de sempre. Então tá, eu e as colegas da enfer-magem só vamos obedecer seus procedimentos. Prometo que não vou dar opinião.
— O caso do rapaz é cirurgia urgente, pela perfuração pegou alguma artéria importante, avise a equipe.
— Já estão preparando a sala, vamos subir com ele. Ah, acabou de chegar uma paciente com parada cardíaca, o que fazemos? A recepção disse que é uma usuária de drogas.
— O meu colega ainda não chegou? Vou ver se ainda dá tempo de ver aquele senhor.
— Não se preocupe com ele, já acabou. As crianças estão esperando.
— Eu sei.
— Ah, sua esposa mandou mensagem, quer saber se o senhor prefere pizza de mussa-rela ou portuguesa para entregar.
— Qualquer uma, Claudinha. Não estou com cabeça para escolher.
— Então tá, vou pedir portuguesa sem cebola, eu não gosto.
— E o meu café? Esqueceram de mim?
— A dona Terezinha saiu correndo para casa, o marido passou mal, está sozinho.
Ele não estava gostando de nada disto.  Atender sem café... parece que faltava alguma coisa, tipo assim, um estímulo para continuar tudo aquilo.
Alguns minutos depois, chega seu colega de plantão:
— E aí, tudo bem? Desculpe, este trânsito é um inferno. Ah, nosso time está jogando, já viu na TV quem está ganhando?

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O BANDEIRANTE - nº 324 - NOVEMBRO de 2019

O BANDEIRANTE - edição 324 - Novembro de 2019

Editorial: 

A morte na literatura 

Logo no início do mês de novembro, reverenciamos os entes queridos falecidos e a morte retorna como tema de reflexão.
Na Literatura ela constitui um importante instrumento de dramatização e por vezes determina o sucesso de um livro. Com certeza a história de amor de Romeu e Julieta não teria o mesmo impacto se os enamorados fossem felizes para sempre.
A morte pode ser narradora como em “A Menina que Roubava Livros” de Markus Zusak. Ou estar associada à solução de crimes nas tramas que consagraram Agatha Christie e Arthur Conan Doyle e nos mistérios de Edgar Allan Poe.
O poder criativo de Machado de Assis deu voz a um personagem morto em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” enquanto Liev Tolstoi nos conduz a refletir sobre o sentido da vida no livro “A Morte de Ivan Ilitch”.
A morte é tão necessária que José Saramago em “As Intermitências da Morte” aponta os problemas de um mundo em que ninguém morre. Na poesia, não há como não se emocionar com João Cabral de Melo Neto em que “a morte severina ataca em qualquer idade e até gente não nascida”.
A morte de fato é um enigma “que chega cedo pois breve é a vida” (Fernando Pessoa), “um poderoso vento” (Cecília Meireles), “um regaço como clausuro de paz” (Casimiro de Abreu) “que vem de longe do fundo dos céus” (Vinicius de Moraes) e que “talha as estátuas e a engendra a glória” (Guilherme de Almeida).
Manuel Bandeira ouviu a morte sorrateira batendo à porta, provocando medo, mas que no fundo “era a doçura da amada que amara com mais amor”. Fazendo parte do ciclo natural da existência, a morte é bem-vinda na Literatura.
Mas a temida “morte em vida” também pode ocorrer com os livros. É quando eles ficam em um canto sem terem sido lidos, às vezes nem sequer folheados. Depende de nós evitar que isso aconteça. Por isso, neste mês de novembro em que refletimos a importância de viver o dia a dia, vamos colaborar para que cada livro também cumpra o seu destino? Vamos?

Márcia Etelli Coelho
Presidente da Sobrames-SP

Leia a edição completa clicando no link a seguir:
O BANDEIRANTE - NOVEMBRO 2019

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