Por: Marcos Gimenes Salun
JORNALISMO
I
Reservo meu ócio para coisas amenas, que não me tragam
susto nem chateação. Busco lugares que me surpreendam, gente e coisas que me
apeteçam e que não me tragam problemas. Basta os do quotidiano, quando quase
definho nessa coisa de sobreviver. Então pesco. Insisto. Penso, logo existo.
Lanço engodos e me dá prazer, pois os peixes atendem a esses chamados mesmo
sabendo que são armadilhas. (Tenho uma tese boba que sustenta que todo peixe
fisgado, não sabe o que são armadilhas). Assim mesmo se entregam. Lutam
nervosos e imprevisíveis, mas raramente escapam. Acabam em minha mão, que os
solta de novo... Seu destino é buscar engodos.
II
Brinco de
garimpeiro, em certos momentos de ócio. Afundo bateias nos riachos de minhas
planícies, faísco pepitas, despejo rejeitos. Refino o que reluz. Quantas águas
haverei de vasculhar nesses meus parcos momentos de ócio? Mas os reservo apenas
para coisas assim, maiores que a mesquinharia do repetir-se da maioria dos meus
dias.
III
E é assim
que gosto de olhar horizontes, especialmente em oceanos. Sento-me a bisbilhotar
com o binóculo. Procuro veleiros insuspeitos, amigos aguardados com ansiedade,
na expectativa de que voltem do mar e aportem. Então os vislumbro nos
horizontes desse oceano de meu ócio. Tiro as sandálias de meu dia-a-dia e os
recebo para que me contem as novidades dos lugares em que não fui, e venham se
refestelar nessas areias em que eu os esperei. E não há pressa nesse meu
momento de ócio, pois o reservo para coisas amenas, como o chegar de um barco.
Um barco que saiu do horizonte que eu adivinhei, que veio do nada que eu
pensava que havia e que aflorou das espumas distantes que eu avistava.
IV
Meu ócio é mais ou menos
assim, pleno de novidades que surgem desse nada que é. Não quero empatar meu
tempo, pois não sei quanto dele resta. E é por isso que eu, nos meus momentos
de ócio, me aventuro em cavernas de pensamento, escalo morros imaginários,
inatingíveis, reviro as amplidões de minhas planícies, cavalgo, rumino
existências e cravo conquistas. Fecho os ouvidos aos ecos indecifráveis. Não
permito que em meus momentos de ócio existam coisas mesquinhas. Só o
indispensável me basta. E sempre pesco, pois existo!
***
Menção Honrosa no Prêmio Flerts Nebó 2017-2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário