Comemoramos 100 anos da Semana da Arte, evento considerado importante na cidade de São Paulo, com propostas renovadoras e ambiciosas em todos os aspectos das artes. A antropofagia, termo cunhado na época, seria uma metáfora de um processo digestivo, como ingerir o trabalho artístico estrangeiro, assimilar, deglutir e expelir com características próprias dos artistas em busca de identidade nacional. Esse movimento atingiu múltiplos cenários da cultura brasileira na busca de autonomia e desenvolvimento.
Nesse
século que nos separa desse movimento marcante, o planeta passou por grandes
transformações que nos atingem e nos ameaçam. Guerras movimentos separatista,
globalização, expansões tecnológicas, problemas climáticos; tivemos avanços e
retrocessos, enfim uma gama incontável de inquietudes.
Qual
seria nossa preocupação atual, para estarmos calibrados com as necessidades
sociais e culturais contemporâneas?
O
grande artista Charles Chaplin, no filme Tempos Modernos, em 1936, impactou o
público com humor, romantismo e astúcia. Encenou a aceleração do homem com
advento da Revolução Industrial. Chaplin mostrou os caminhos do estresse dos
trabalhadores diante da produção esperada com as novas máquinas automáticas. Os
movimentos repetitivos decorridos desse tipo de trabalho foi uma demonstração
artística de um processo de esvaziamento
da mente humana, tornando-nos alheios à
nós mesmos, condição que segue até os dias de hoje em muitas atividades.
A
vida moderna trouxe sim muito progresso com a tecnologia da informática, no
entanto, a velocidade gerada pela agilidade que as comunicações são processadas
via internet nos colocou na correria de alcançar o tempo, e esse nos escapa. A
fluidez dos momentos, como bem descreveu o sociólogo Bauman em 2006, nos torna
pessoas sem atenção, com dificuldade de vínculos, seres solitários e altamente
individualistas.
Nessa
aceleração fugidia, onde se encontra nossa sensibilidade, nossa humanidade?
Penso não termos respostas prontas, contudo essas preocupações desencadearam
ações muito realistas e pontuais.
No
ensino fundamental estimulam as crianças com figuras para distinguirem faces
alegres das tristes, diferenciarem faces de raiva das calmas. Será esse um
caminho natural? Têm-se aulas de humanidades nas escolas médicas que
sensibilizam estudantes a entrarem em contato e recuperarem suas vivências e
sentimentos profundos. Compaixão, empatia, são agora ensinadas em aulas com
presença obrigatória.
A
vida moderna nos sequestrou características tão peculiares e próprias do ser
humano, conseguiremos a tempo restaurar nossa humanidade ?
SUZANA GRUNSPUN
(Texto vencedor da Super Pizza de fevereiro de 2022 com o tema “Vida Moderna)