quinta-feira, 11 de abril de 2019

DO AZUL E DOS SONHOS



Por Alitta Guimarães Costa Reis
PSIQUIATRIA

Quando acordou, os seios cheios de sol,
sonhava com aflições, perdas e dores.
E devia ser assim, todas as noites,
pois, pela manhã, o rosto já dizia.
Sem queixas, sem remédio, sem compaixão,
para onde correr, contra o que lutar?
Para imaginar, tinha o resto do dia...
sabia do risco de ir muito fundo.
Fechou os olhos e se ajeitou na cama.
De repente, entrou no azul profundo.
Tudo ficou profundamente azul.
E do azul teceu-se uma paz completa,
inventando o amor em doce regaço,
pura música, em ouro, em cristais...
puro prazer de barco livre do cais,
ocupando todo o tempo e todo o espaço.
Por ironia, acordou. Sonhos malvados!
Emergiu bruscamente do mundo azul,
aterrissou em seus lençóis amassados,
retornou de chofre àquela manhã
absurdamente real e luminosa.
O sol já ardia um pouco em sua pele.
O azul bonito, cheirando a infinito,
se esvaíra. Por ter criado contraste,
o sonho fora mais cruel que os outros.
Teria todo dia para lembrar
que havia perdido o que era seu,
de direito: paz profunda e amor perfeito.

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